Plínio Monteiro
sabia que metade da paz doméstica estava em não a desmentir nunca. A outra
metade era um exercício precário de compreensão. Não tinham filhos e suportavam
esse lapso da natureza sem se recriminarem. Assim ela o julgava pelo menos.
Plínio, mais do que tudo, desejava era deixar semente sua neste mundo, mas ela
nunca lhe dava arresto a essa vontade, e escapava-se com mezinhas de fala ao
jorro impetuoso da sua intenção.
- Não quero coisa
alguma a crescer-me aqui, - E apontava-lhe a sua barriga. – Quero-me manter
moça e bonita para ti.
Plínio duvidou que
tivesse sido a sua última palavra. Pensava que quando uma mulher diz que não
fica à espera que insistam antes de tomar a decisão final. Mas com ela era
diferente, e não parecia haver jeito de gente ou do diabo que lhe mudasse a
determinação entranhada.
Foi por isso buscar
solução a Deus. Ainda mal cantava o galo na manhã seguinte e já ele se
encaminhava em passo ligeiro farejando a batina do prior.
Encontrou-o a meio
da preparação da missa matutina, e não fez por menos, foi direto ao assunto, fez
questão de se benzer três vezes na sua presença, genufletindo-se e tudo, como
manda a tradição cristã. Ao padre, agradou-lhe a conversão espontânea de tal
pecador desaparecido, e a conversa entabulou-se logo ali.
- Bons olhos te vejam
Plínio Monteiro. Que milagre vem a ser este? – Arreganhou o cumprimento.
- Sr. prior, nem
sabe ao que venho.
- Então, então.. – Remeteu-lhe
perante tal atrapalhação. – Para isso cá estou eu. Em que posso ser de
serventia?
- Trago a cabeça
prostrada com o peso dos cornos que a minha Cecília me pôs! – Exclamou de
assentada.
Foi a vez do padre
se benzer, perante semelhante afirmação desgostosa, e mal lhe passava a nervura
num suor de aflição, já este delineava uma solução moldada ao jeito da sua
parca sapiência.
- Falarei com ela,
tudo se resolverá.
- Eu que só queria
constituir família senhor prior, e agora isto!
- Vai com Deus, amanhã
mesmo ponho isto em pratos limpos.
Plínio abandonou o
confessionário com um ar santo de pau oco e um sorriso de conquista nos lábios.
Não passou mais que
a noite seguinte, e Cecília interpelou-o assim antes da entrada na cama:
- De hoje não passa,
faremos um filho nem que caiam as estrelas do céu!
Estava o objetivo
cumprido.
Casimiro Teixeira
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