quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A solução divina!


Plínio Monteiro sabia que metade da paz doméstica estava em não a desmentir nunca. A outra metade era um exercício precário de compreensão. Não tinham filhos e suportavam esse lapso da natureza sem se recriminarem. Assim ela o julgava pelo menos. Plínio, mais do que tudo, desejava era deixar semente sua neste mundo, mas ela nunca lhe dava arresto a essa vontade, e escapava-se com mezinhas de fala ao jorro impetuoso da sua intenção.


- Não quero coisa alguma a crescer-me aqui, - E apontava-lhe a sua barriga. – Quero-me manter moça e bonita para ti.
Plínio duvidou que tivesse sido a sua última palavra. Pensava que quando uma mulher diz que não fica à espera que insistam antes de tomar a decisão final. Mas com ela era diferente, e não parecia haver jeito de gente ou do diabo que lhe mudasse a determinação entranhada.
Foi por isso buscar solução a Deus. Ainda mal cantava o galo na manhã seguinte e já ele se encaminhava em passo ligeiro farejando a batina do prior.
Encontrou-o a meio da preparação da missa matutina, e não fez por menos, foi direto ao assunto, fez questão de se benzer três vezes na sua presença, genufletindo-se e tudo, como manda a tradição cristã. Ao padre, agradou-lhe a conversão espontânea de tal pecador desaparecido, e a conversa entabulou-se logo ali.
- Bons olhos te vejam Plínio Monteiro. Que milagre vem a ser este? – Arreganhou o cumprimento.
- Sr. prior, nem sabe ao que venho.
- Então, então.. – Remeteu-lhe perante tal atrapalhação. – Para isso cá estou eu. Em que posso ser de serventia?
- Trago a cabeça prostrada com o peso dos cornos que a minha Cecília me pôs! – Exclamou de assentada.
Foi a vez do padre se benzer, perante semelhante afirmação desgostosa, e mal lhe passava a nervura num suor de aflição, já este delineava uma solução moldada ao jeito da sua parca sapiência.
- Falarei com ela, tudo se resolverá.
- Eu que só queria constituir família senhor prior, e agora isto!
- Vai com Deus, amanhã mesmo ponho isto em pratos limpos.
Plínio abandonou o confessionário com um ar santo de pau oco e um sorriso de conquista nos lábios.
Não passou mais que a noite seguinte, e Cecília interpelou-o assim antes da entrada na cama:
- De hoje não passa, faremos um filho nem que caiam as estrelas do céu!
Estava o objetivo cumprido.

Casimiro Teixeira

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