quinta-feira, 29 de março de 2012

FILOSOFANDO À TOA-9




 

(Sobre Raul Seixas e o Mito na Contemporaneidade)


Por: Célio limA.


“Eu vi o céu à meia-noite Se avermelhando num clarão Como incêndio anunciado No apocalipse de São João Porém não era nada disso Era um Curisco, era um Lampião. Eu vi um risco nos espaços Era o revôo do sanhaçu Eu vi o dia amanhecendo No ronco do maracatu Não era lança de São Jorge Era o espinho do mandacaru. Ví um profeta conduzindo Pros arraiais as multidões Pra construir um chão sagrado Com espingardas e facões Não foi Moisés na Palestina Foi Conselheiro andando nos sertões. Eu vi um som na escadaria Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó Não era o eco das trombetas De Josué em Jericó Era um fole de oito baixos A tocar numa noite de forró. Vi um magrelo amarelado Passando a perna no patrão Não foi ninguém da Inglaterra Nem de Paris, nem do Japão Era o Pedro Malazarte Era João Grilo e era Cancão. Eu vi um som ao meio-dia No meio do chão do Ceará Não era o coro dos Arcanjos Nem era a voz de Jeová Era uma cascavel armando o bote Balançando o maracá. Vi uma mão fazer do barro Um homem forte Um homem nu Um homem branco como eu Um homem preto como tu Porém não foi a mão de Deus Foi Vitalino de Caruaru”. (Braulio Tavares) 



         O Mito que vem a ser relatos de um povo ou pode se disser ser narrativas de determinadas tribos também. Que falem sobre a cosmologia ou o surgimento das coisas em geral. Há certo embate por parte dos que trabalham com a filosofia e o mito. Há os que utilizam da filosofia como uma busca puramente racional, calculista e fria. Para esses indivíduos os mitos seriam meros tipos de contos fictícios. Há os que utilizam do teor ou forma do mítico para passar as noções filosóficas sobre a verdade. Ver como exemplo o mito da caverna do Platão. 

Com o advento da modernidade o puder da Ciência como autoridade de alguma verdade. Destruiu com alguns mitos e alguns conceitos da tradição social e também religiosa. Porém vez ou outra surge uma nova descoberta, que mostra que tais conceitos científicos são ultrapassados e, portanto trocado por outros conceitos. Entra dessa forma a narrativa mítica como elemento na própria ciência. Exemplifico os conceitos de átomos, quarqks, big bang ou bigs bangs, a física quântica, a nanotecnologia etc.

Na contemporaneidade se utiliza muito a expressão “fulano é um mito”. “O Raul Seixas é um mito”. “O Airton Sena ou o Mané Garrincha foram mitos”. Isso vem a ser dito sobre os mortais que fizeram alguma faceta histórica ou simplesmente se refere a figuras que diante do seu tempo. Realizaram coisas diferentes do que a grande maioria. Que estavam ocupadas demais ou bitoladas adestradamente em sua própria rotina. Falarei a seguir sobre o primeiro personagem citado acima e de como se formou como um mito-homem ou mito-midiático.

Raul Santos Seixas ou Raulzito, para os familiares e amigos. Compositor e musico baiano. Que nos anos 60 liderava um conjunto de jovem guarda, nos anos 70 passa de produtor musical da CBS a Cantor participante do festival internacional da canção, com destaque e em seguida adotando o nome/personagem Raul Seixas, que constrói uma interessante carreira musical findada em agosto de 1989.

O mito Raul Seixas fora produzido filosoficamente pensado com o reforço da expressão e pronome: “Eu” acrescido do verbo em suas canções ver nas letras dos seus discos: “Krig-ha Bandolo!” de 1973. “Eu sou a mosca que pousou em sua sopa”, “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”, “Eu devia estar contente...” (Mas acho tudo isso uma bosta ou um pé no saco). O reforço do “eu” como personagem é evidente nos discos seguintes “Gita” de 1974, e “Novo Aeon” de 1975. O Gita ele aparece na capa como um roqueiro messiânico cujos dedos apontando “alguma direção”. Nos versos retirados do livro sagrado dos hindus o “Bhagavad-gita”: “Eu sou a luz das estrelas, Eu sou a cor do luar...”. Na canção “Água Viva” ele se utiliza de São João da Cruz, “Eu conheço bem a fonte que desce daquele monte ainda que seja de noite”, na faixa “Loteria de Babilonia” titulo extraído de j. Luiz Borges ele tanto cita o episodio mítico dos 12 trabalhos de Hercules como reforça o tom de líder ou pregador. Coisa que fortifica a sua imagem de mito na faixa intitulada “As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor”. Mostrando suas facetas e o seu conhecimento diante o mundo. Destaco a importância da faixa “Novo Aeon” onde ele reforça a sua filosofia ou sua busca de sentido para a vida. “Querer o meu não é roubar o seu Pois o que eu quero É só função de Eu”. E assim o Raul seixas se consagra como um personagem de dentro das suas próprias canções. Uma Metamorfose Ambulante, um Maluco Beleza ou poeticamente falando um Carpinteiro do Universo que se diz ser egoísta ao ponto de querer ajudar. Em uma canção do seu ultimo trabalho solo “Senhora Dona Persona (pesadelo mitológico n 3)”: “Os homens passam mais as musicas ficam”. Ele reforça assim que é através das obras que o humano se torna um mito.

É assim que o personagem Raul Seixas vem atravessando a historia. Pelas suas facetas, como quando utilizou do texto do Anarquista Pierre Joseph Proudon na canção “O Carimbador Maluco” para um especial infantil da Rede Globo. Também como muita das vezes o “Cantor Embriagado” e desleixado a aparecer no palco ou em programas televisivos, ou o do Raul Seixas que transou com Deus e com o lobisomem existente nas Multinacionais, no Ocultismo de Aleister Crowley, no pensamento Anarquista proferido na sua Sociedade Alternativa ou até na autobiografia dos versos proferidos nas canções “O Homem” e “Banquete de Lixo”. Enfim eis o perfil do homem e do artista cuja obra passa por quatro gerações e que continua presente nas mídias e também na divisa gritada pelos jovens em diversos tipos de shows por todo o país, o “Toca Raul!!!”. –Célio limA.


“Mal eu subo no palco Um mala um maluco já grita de lá -Toca Raul! A vontade que me dá é de mandar O cara tomar naquele lugar Mas aí eu paro penso e reflito como é poderoso esse Raulzito Puxa vida esse cara é mesmo um mito. Em todo canto que eu vou Tem sempre algum grande fã do cara É quase uma tara Jovens velhos e crianças Malucos e caretas Parece uma seita Por isso eu paro penso reflito Como é poderoso esse Raulzito Puxa vida esse cara é mesmo um mito. Agora toda vez que algum maluco beleza gritar -Toca Raul!
Eu saco esse ás da manga Esse coelho da cartola essa carta da tanga Essa balada-quase-rock com pitadas de forró E nenhum sentimento blue Pra nunca mais ter que ouvir Alguém gritar e pedir: -Toca Raul!” (Zeca Baleiro)



OBS: Célio limA. É filosofo por natureza; anarquista por tesão e poeta por diversão. Membro fundador dos movimentos literanarkos: a Sociedade dos Filhos da Pátria; A Liga Espartakista-Sempre Mais!!!. Atua nos Blogs:http:http://tribunaescrita.blogspot.com/;http://salveopoetasalve.blogspot.com;http://sexopoemaserocknroll.blogspot.com/;http://poetasdemarte.blogspot.com/ . Atualmente cursa: FILOSOFIA-UFPE.

3 comentários:

  1. Célio Lima,

    Que texto porreta, meu irmão!!! Saudações Raulseixistas!!!

    Manoel Hélio
    poeta

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  2. Eu sou um desses MALUCO BELEZA que já grita logo: "Toca Raul".
    Não tem jeito, uma vez Raul, sempre Raul.
    Viva a sociedade Alternativa.

    Excelente texto Célio, parabéns.

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