quarta-feira, 4 de abril de 2012

FILOSOFANDO À TOA -12

 


(Sobre os Jorge Amado)
Por: Célio limA.
 
Moça, eu te mostrarei o pitoresco mas te mostrarei também a dor. Vem e serei teu cicerone. Juntos comeremos no Mercado sobre o mar o vatapá apimentado e a doce cocada de rapadura. Serei teu cicerone mas não te levarei, apenas,  aos bairros ricos, de casas modernas e confortáveis, Barra, Pituba, Graça, Vitória, Morro do Ipiranga. Em ônibus superlotados iremos à Estrada da Liberdade, bairro operário, onde descobrirás a miséria oriental se repetindo nos casebres das invasões, Massaranduba, Coréia, Cosme de Faria, Uruguai, iremos aos cortiços infames,  cruzaremos as pontes de lama dos Alagados. Esse é bem um estranho guia, moça. Com ele não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar. Porque  assim é a 10 Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos álacres e de lágrimas doloridas. Quando a viola gemer nas mãos do seresteiro, nascido na Bahia, filho de sua poesia e sua dor, não reflitas sequer, pois a cidade mágica te espera e eu serei teu  guia pelas ruas e pelos mistérios. Teus olhos se encherão de pitoresco, teus ouvidos ouvirão histórias que só os baianos sabem contar, teus pés pisarão sobre os  mármores das igrejas, tuas mãos tocarão o ouro de São Francisco, teu coração pulsará mais rápido ao bater dos atabaques. Mas também sentirás dor e revolta e teu  coração se apertará de angústia ante a procissão fúnebre dos tuberculosos na cidade de melhor clima e de maior percentagem de tísicos do Brasil. A beleza habita  nesta cidade misteriosa, moça, mas ela tem uma companheira inseparável que é a fome. Se és apenas uma turista ávida de novas paisagens, de novidades para virilizar um coração gasto de emoções, viajante de pobre aventura rica, então não queiras esse  guia. Mas se queres ver tudo, na ânsia de aprender e melhorar, se queres realmente conhecer a Bahia, então, vem comigo e te mostrarei as ruas e os mistérios da cidade  do Salvador, e sairás daqui certa de que este mundo está errado e que é preciso refazê-lo para melhor. Porque não é justo que tanta miséria caiba em tanta beleza.  Um dia voltarás, talvez, e então teremos reformado o mundo e só a alegria, a saúde e a fartura caberão na beleza imortal da Bahia. Se amas a humanidade e desejas ver a Bahia com olhos de amor e compreensão, então serei teu guia, Riremos juntos e juntos nos revoltaremos. Qualquer catálogo oficial,  ou de simples cavação, te dirá quanto custou o Elevador Lacerda, a idade exata da Catedral, o número certo dos milagres do Senhor do Bonfim. Mas eu te direi muito  mais, pois te falarei do pitoresco e da poesia, te contarei da dor e da miséria. Vem, a Bahia te espera. Ê uma festa e é também um funeral. O seresteiro canta o seu chamado. Os atabaques saúdam Exu na hora sagrada do padê. Os saveiros cruzam  o mar de Todos os Santos, mais além está o rioParaguaçu. É doce a brisa sobre as palmas dos coqueiros nas praias infinitas. Um povo mestiço, cordial, civilizado, pobre e sensível habita essa paisagem de sonho. Vem, a Bahia te espera” (Bahia de Todos os Santos -  Jorge Amado)

Quando adolescente li entre outras coisas da literatura brasileira alguns dos romances do escritor baiano Jorge Amado. Gostei na época achei-os bons e esteticamente agraveis. Porem naquela época não os interpretei como grandes livros ou obras importantes, coisa que interpreto hoje em dia. Sei que o senhor Jorge Amado fora um grande contribuidor para a formação desta imagem mítica que a Bahia ainda exerce ao nosso imaginário e que contribui para o seu lucro como turismo exercido nesse estado do Brasil. Porem a valoração dessa magia baiana que agrada aos turistas. Foram muita das vezes motivos de criticas ferrenhas, por parte de alguns dos nossos intelectuais e etc.                                                                                  
Para mim umas das maiores criticas que eu já li referente a sociedade baiana estar nas paginas do livro: “Bahia de Todos os Santos”, do próprio Amado. Na qual ele com sua narrativa oferece como guia para nos mostrar os desenganos e desencantos daquela cultura. Seja mostrando e apontando os defeitos e a miséria existente no estado da Bahia como de fato existe em qualquer outro estado brasileiro. Outra coisa, que me fizera ver a grandeza ficcional dentro da obra do Jorge fora uma entrevista com o do escritor/compositor paraibano o Bráulio Tavares. Em que ele compara o universo fantástico entre os escritores internacionais e os nacionais e fala principalmente da obra do Jorge Amado. Cita o clássico “dona flor e seus dois maridos”. No qual alem da critica ao falso moralismo cristão e ao expor a um certo sincretismo religioso como alternativa na vida da personagem dona flor. Que casada com um boêmio que morre deixando-a viúva, ela se casa novamente agora com um tipo politicamente correto. O interessante é que a personagem começa a sentir saudades sexuais do falecido e etc. Ele (Vadinho) volta do alem para satisfazer-la dando origem assim há uma bigamia (civil/religiosa) e no popular um triangulo amoroso a grosso modo vos dizer. Nessa relação o marido a satisfaz cilvil-moral-religiosamente, e o ex-marido e moribundo ser satisfaz a ela sexualmente e espiritualmente. O que é interessante nesse romance se comparado com os de autores gringos é que o Amado inovou no formato. Nos outros romances o morto vem do alem para se vingar, perturbar ou  cobrar alguma divida. Coisa que vemos com facilidade na literatura fantástica, romances medievais com castelos assombrados ou na nossa própria literatura de cordel. Em dona flor... Jorge Amado traz ao mundo dos vivos um defunto em estado de “Paudurecencia”. Um defunto carnavalizante, alegre que vem dos confins metafísico para na terra transar, não o trepar por trepar, mais sim para satisfazer sexualmente a sua saudosa amada.                          
Como por traz de todo grande homem sempre se há uma mulher. Não me esquecerei de comentar a importância da Zélia Gattai. Que fora uma grande parceira na vida do senhor Jorge Amado. Da Zélia li recentemente o seu livro “Anarquistas graças, a Deus”. Do qual ela relata suas origens e cita  sobre a primeira experiência anarquista acontecida aqui no Brasil. A colônia Cecília. Pra finalizar eu indico entre tantas as obras do Amado “Gabriela cravo e canela” e “Capitães da Areia”. –Célio limA.

Meu desejo primordial quando montei uma banda era esculhambar com a cultura baiana Aquela mentira essa farsa que tem aqui de que tudo aqui é maravilhoso A luz, o sol, o mar, axé, o acarajé, o abara...  Essa coisa mítica da Bahia. A Bahia é mítica ela não existe. Isso foi criado pela classe artística baiana. Ary Barroso que cantou e compôs “na baixa do sapateiro”...  E outras canções alusivas a Bahia. Esteve aqui em Salvador em janeiro de 1929 e nunca mais. Carmen Mirada com seus balangandans...  nunca esteve na Bahia... Dorival Caymmi da lagoa do Abaeté... morou e morreu no Rio de Janeiro...  Essa Bahia é mítica. É uma invenção, ela não existe é pra trouxa. Eu me lembro duma analogia... o Valhalla é o paraíso dos deuses nórdicos, de Odin, Thor, então quando os guerreiros cumpriam a batalha eles não iam pro céu eles iam pro Valhalla... E aí eu lembrei: “você já foi a Bahia nego, não? Então VALHALLA!!!”  (Música Falada – Marcelo Nova)      


OBS: Célio limA. É filosofo por natureza; anarquista por tesão e poeta por diversão. Membro fundador dos movimentos literanarkos: a Sociedade dos Filhos da Pátria; A Liga Espartakista-Sempre Mais!!!. Atua nos Blogs:http:http://tribunaescrita.blogspot.com/;http://salveopoetasalve.blogspot.com;http://sexopoemaserocknroll.blogspot.com/;http://poetasdemarte.blogspot.com/ .                                                                     Atualmente cursa: FILOSOFIA-UFPE.

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