sábado, 22 de dezembro de 2012

Katarine Araújo no Castanha Mecânica (“Domingos Azuis e Outros Dias Nublados”)



Com um sotaque legitmamente urbano… Urbano não… De terceiro mundo… Melhor e mais preciso: de Recife e Olinda! Katarine Araújo pede benção ao cinza de Erickson Luna e ao azul de Alceu Valença (nos bons tempos, claro) para a jornada de amor e paixões e tristezas e misérias com o seu Domingos Azuis e Outros Dias Nublados, 20 poemas que exploram não só as temáticas trabalhadas, mas os usos das palavras no papel… Ou melhor: no monitor. Afinal não devemos perder de vista que a antologia foi gerada com base nos poemas publicados no blog Canto de Amor e Lama.

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JORGINHO

          Minha gente, alguém conheceu Jorginho, aí? Pois é, pior que sim, e ninguém nem sabe. Porra, Jorginho era foda.
          Jorginho era um infante rebelado, quebrava brinquedo, roubava lanche no recreio. Jorginho roubava beijo das meninas, colava chiclete no cabelo delas. “Ah, Jorge Antônio se eu te pego!” “— Se tu me pega, eu sou o pega mãe!” — berrava Jorgin.
          Jorginho só foi Jorge Antônio duas vezes na vida, na certidão de nascimento, e na de óbito. Jorginho nunca bebia, ele sempre se embriagava. Nunca foi de andar, sempre de correr. Nunca amou (pouco), Jorginho era de tantos amores, um amante incompreendido ou coisa assim. Odiava estudar, a vida dele era ler Marx e Freud. “Ah Jorge... Assim tu não vence na vida!” — “Oxi, painho, e é guerra é? Eu quero é me perder na vida!”
          Ah, Jorginho não serviu ao exército! Ah, Jorginho, de beber perfume, de chocar vovó com palavrão cabeludo, de seduzir a empregada. Ah, Jorginho cara de pau, de passar cheque sem fundo, de casar cinco vezes, e apesar dos cinco divórcios declarar que todos deram certo! Um dia Jorginho sumiu, e até hoje não se sabe pra onde. Foi pro mundo, virou pó. Ou poesia. Jorginho dizia “mãe, eu posso! Eu tenho alma de poeta.” (Vá entender, né? Vai ver ele podia.)
          Ainda bem que EU pude conhecer Jorginho.

Katarine Araújo


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Fred Caju estará sempre por aqui aos sábados, pontualmente às 16:20. “Pague pra ver que eu aposto”. Grande abraço a todos do TRIBUNA ESCRITA!
       

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