O SORRISO DA CACHORRA
CAPÍTULO 1
Parte 1
Início das aulas
Para chegar a sua escola, subia uns 800m pela ladeira da
catedral, que, apesar de íngreme, ele ascendia sempre no mesmo ritmo, pois
acreditava que passos lentos demonstrariam fraqueza. Chegava sempre 30 a 40
minutos antes do início das aulas.
A
escola tinha uma linda fachada, com escadaria e um grande portão de grades.
Havia também escadarias internas e janelas com sacadas, com uma vista da parte
baixa da cidade, de onde era possível ver o oceano Atlântico, de um azul
profundo, riscado em suas margens por ondas brancas.
Era uma escola com
quase 50 anos. Mesmo com a grandiosa fachada, os alunos entravam por trás,
talvez por ser numa rua mais movimentada ou por opção sexual do dono da escola,
um velho padre bicha. Nos fundos havia duas entradas: uma que servia à passagem
dos alunos e a outra, a funcionários e professores, que se iniciava por uma
escadaria. À direita dos degraus ficava a secretaria, e à esquerda, a sala do
diretor. Logo à frente, uma porta se abria para um corredor de aproximadamente
dez metros de largura por uns cinquenta de comprimento, com quatro salas de
aula de cada lado. A entrada dos alunos era paralela a este corredor. Atrás da
sala do diretor, também havia um caminho, só que bem mais estreito, tendo apenas
uns dois metros de largura. O final desta passagem dava para um grande pátio
com três mastros, onde eram hasteadas, às segundas-feiras, as bandeiras do
país, do estado e do colégio.
Mesmo tendo convivido
com seus amigos nas férias, reencontrá-los era muito bom. Então começaram a
chegar. Primeiro Antônio, também com dezesseis anos, cabelos pretos curtos e
penteados para trás, magro de pernas compridas e bem barbeado, pois, apesar da
idade, já apresentava barba; tipo latino, tinha um belo senso de humor, contava
boas piadas, como se fossem verdadeiras. Isso o fazia muito sério. Depois dos
cumprimentos de praxe entre amigos, abraços e apertos de mãos, passaram a
aguardar a chegada dos outros. Os próximos foram os irmãos Diniz. O mais alto, era
o mais novo, tinha cabelos pretos lisos e a cara de abestalhado, mas era muito
estudioso. Já seu irmão Charles, nome muito apropriado — pois andava tal qual
Charles Chaplin —, era baixo, cabelo aberto ao meio, também preto. O último,
como sempre, o “Doutor”, como era chamado José M., já prevendo sua carreira
como médico, vinha, nas pontas dos pés, todo bronzeado. Imagine o “Doutor”,
meio gordinho, todo suado, subindo a tal ladeira!
Estavam reunidos
próximos as bandeiras, falando sobre as novas meninas, quando Patrícia
apareceu. Ela era nova na escola e estava acompanhada por também novos alunos,
os pequenos burgueses que reprovados nos colégios de ricos tentavam se
recuperar nessa escola. Brincavam como se tivessem intimidade e como se já
fossem alunos antigos. Ela tinha cabelos longos, negros, pele branca e olhos
verdes, uma combinação perfeita. Era a única aluna que não estava de farda:
vestia jeans e blusa branca de botões, muito sorridente.
E, como se não bastasse
estar na mesma escola que ela, André estava também na mesma sala. Não comentou
nada com seus amigos, pois ainda não sabia o que dizer. Ele sentava na primeira
fila, pois, mesmo usando óculos, não enxergava bem; ela mais atrás.
Uma semana se passou e finalmente ele resolveu conversar
com seu amigo Antônio. Comentou como era bela aquela menina e que tentaria se
aproximar. Então seu amigo lhe perguntou se estava louco em se envolver com
mulher casada e, além do mais, grávida. Ela estava com três ou quatro meses de
gravidez e ele nem tinha percebido. O tempo foi passando e ele deixou de lado
seus planos de aproximar-se, já que não se envolveria com uma mulher
comprometida. Os meses se passaram, ele se destacava por ser um excelente aluno
e por sua ativa participação política; e ela, por ser linda e cativante,
espalhava risos e alegria para todos.
Daniel Barros,
ResponderExcluirO primeiro capítulo de um livro eu acredito que seja o mais importante do romance... E você conseguiu prender a minha atenção nessa primeira leitura... Eu estou aguardando o segundo capítulo... Vou querer saber mais sobre o André e a Patrícia... E como vai ficar esse sentimento do André por ela...
Até o próximo capítulo,
Manoel Hélio
poeta