Manhã de quase Natal - “bucolicozidade”
(Despedida V e VI)
– Os motores aos ouvidos em dores; os odores do carbono a calhar; o cruzar de mil pernas; às janelas com visão limitada, a empreitada de ser e estar.
Veemência ao máximo, mas a corda ruída; troca-se a música erudita por um rock pesado. Na beira do abismo, com o pensamento equivocado, constrói-se o equilíbrio conforme a necessidade... e atravessa-se o vale:
Agora se vê cedros secos e regadores lotados d’água; ave cinza voando ao redor de arco-íris. Foca-se a íris em bocas que com todos falem – palavras inexatas – incoerências em dialéticas.
E retorna-se à corda, não se sossega o facho: acorda os olhos, pois agora é real perigo; nostálgico tempo, vento e desabrigo... pede-se o ofuscamento, pois coragem em andamento... o sangue corre quente e rente à corda balança a mente.
(troca-se o rock alto por Ron Carter e seu contrabaixo)
E acorda-se do sonho, agora voa-se baixo: céu encoberto, nuvens à vera, ventos fortes de leste varrendo a estação; o sol quente que preste, a cachoeira à espera, nos poemas – quimeras; para as feras, oração. (fica Ron Carter e seu contrabaixo).
O sol parou de lascar seu beijo quente no asfalto, fim de tarde em mais um dia; ônibus passa, crianças voltam a brincar de bola, roupas voam nos varais e levam o cheiro do café e pão frescos; pessoas passam com suas sacolas e o bucólico torna-se culminante.
Viajo no espaço por um instante, meu corpo suado – estafado – planeado, quase que quase atravessa o país; o cheiro da minha casa penetra o nariz... fina flor que invento para a comodidade. As pernas hoje pediram longa rua, queriam andar e ver novos caminhos; sons se repetem, as horas ecoam sozinhas e o tempo estaciona e me açoita nas nádegas. Meus olhos buscam novos rostos, tristes ou alegres, mas novos: olhos e rostos. Amanhã tomarei coragem e o café bem quente, irei à luta, sair novamente, quero rua. A perpendicularidade do raciocínio chega a desafiar a gravidade; nem sei a gravidade desse desafio, prefiro distrair minhas ideias, escrever. Amanhã é outro dia, é nova sexta-feira... o tempo vai ter que mexer e me mexer. Foi dada uma pausa no ponteiro dos segundos, é aquela noção de congelamento; senti-me voando num céu de brigadeiro, vendo as formigas da cidade grande. O alerta foi dado ao público, nisso, nessa, nossa, “bola”; o amor pode estar parco e não é desesperança (é realidade). Então façamos assim: mais afeto/abancar coragem, engraxar engrenagens, largar a flecha e o arco, pegar os rumos, pegar os remos e flores, abarcar e embarcar nos amores; e “de quebra”, no majestoso barco.
Tiraram a pausa do ponteiro, acabaram com o imbróglio; vou por meus pés na estrada.
A vida é curta quando é corte; a vida é longa quando é logo.
André Anlub
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