segunda-feira, 15 de agosto de 2016
o cigano
postais da ria (184)
o cigano
onde antes areia moliço
peixe luz alimento
nada mais que um charco
rodeado de lama
lama na ria e um cemitério
de bateiras
à espera da despedida
dos donos
a lama invade tudo
chapinha-se na lama
e dá-se-lhe bandeira doirada
na ilusão de pescar incautos
reconheço o fim do tempo
na maré vazia
a que nem os homens resistem
partem os que podem
ficam os que já não
ou porque também
o cigano desmonta a tenda
lava os pés e as mãos
na pouca água que resta
purifica-se
o cigano não muda a terra
muda de terra
é esse o seu destino
sonhar sonhar sonhar
nada é em vão
(torreira; porto de abrigo; 2016)
https://ahcravo.com/2016/08/15/postais-da-ria-184/
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