quarta-feira, 30 de março de 2011

A cada 100 professores, oito estão afastados



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Paulo Neves, diretor da Apeoesp: maioria das doenças que acomentem os docentes decorre do próprio trabalho. Foto: Andris Bovo .

Por: Rosângela Dias (rosangela@abcdmaior.com.br) .

Saúde é principal motivo de afastamento; em dezembro, mais de 17 mil docentes da rede estadual estavam licenciados .

Os problemas de saúde são a principal causa de afastamento dos professores da rede estadual de São Paulo. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, somente em dezembro do ano passado 17.514 mil dos 220 mil docentes que prestam serviço no Estado estavam afastados por motivo de licença-saúde. No ABCD, a estimativa é que o mesmo problema atinja cerca de 8% (1.137) dos 14.220 mil professores que atuam na Região. .

Na opinião do diretor de comunicação da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Paulo Neves, a maioria das doenças que acometem os docentes é decorrente do próprio trabalho. As enfermidades mais comuns são relacionadas ao estresse, barulho, problemas nas cordas vocais, tendinite, além de problemas psicológicos. “É um conjunto de elementos que acaba comprometendo o trabalho docente”, ressaltou. .

Professora de Língua Portuguesa em uma escola estadual de Santo André, Cleuci Borges está longe das salas de aula desde 2009 depois de ser diagnosticada com um quadro depressivo. O ambiente de trabalho fez com que a professora apresentasse sintomas como taquicardia, irritabilidade e isolamento. .

“Leciono para Ensino Fundamental II (crianças entre 11 e 14 anos, em média) e todos os dias me deparava com um barulho insuportável, tanto em sala de aula quanto nos corredores. As crianças não conversam mais. Elas gritam. Isto, aos poucos, foi me incomodando cada dia mais, chegava em casa com dor de cabeça, exausta, sem vontade de fazer nada. Às vezes, quando entrava em sala de aula, me dava vontade de chorar e de ir embora. Era desespero mesmo”, relatou Cleuci. .

A professora tentou retomar a rotina de trabalho em 2011, mas não conseguiu e permanece afastada das funções. Apesar de estar em tratamento, ela afirma que continua com dificuldades em lidar com ambientes com muita gente e com barulho excessivo. “Procuro pelo silêncio”, afirmou. .

Soluções paliativas - Em abril de 2008, o então governador José Serra (PSDB) sancionou a lei que limita as ausências dos servidores por motivos de saúde em seis dias por ano, sendo apenas um dia por mês. A medida foi criticada pelos professores da rede. “Consideramos isso uma lei perversa e temos exigido sistematicamente que seja revogada. É absurdo querer limitar os dias que o docente pode ficar doente ou acompanhar o filho ou os pais doentes”, argumentou o diretor de comunicação da Apeoesp de São Bernardo, Paulo Neves. .

Também com o intuito de diminuir os afastamentos na rede em consequência de problemas de saúde, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), lançou recentemente o programa SP Educação com Saúde. A princípio, 13 diretorias de ensino de São Paulo terão centros multiprofissionais com um médico, dois enfermeiros, um nutricionista, um psicólogo, um fisioterapeuta, um fonoaudiólogo e uma assistente social tanto para atender os docentes que já foram diagnosticados quanto para atuar de forma preventiva. .

Por enquanto não há previsão de quando o programa estará em vigor no ABCD. No entanto, para Neves a medida é meramente paliativa. “Na realidade é o governo agindo na conseqüência, e não na causa do problema. Não vai resolver porque a situação salarial da categoria permanece. O salário arrochado faz com que o professor tenha de se dividir e trabalhar em diversos lugares, gerando o excesso de aulas”. O salário hora atual para início de carreira é de R$ 7,92. .

Neves ressalta que outro ponto que precisa ser observado pela administração é a quantidade de alunos em sala de aula. A média é de 40 a 45 estudantes, quando os professores argumentam que para desenvolver um bom trabalho seria ideal que não fosse ultrapassada a marca de 25 estudantes em classe. “Ou você faz uma modificação estrutural nas variáveis que envolvem a escola ou vamos continuar com essa tragédia na qual está imersa a educação de São Paulo hoje”, sentenciou. .

http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=27903, publicado 01/03/2011, acessado 30/03/2011.

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