domingo, 30 de junho de 2013

antónio josé cravo_arte do caranguejo na murtosa



Publicado em 23/06/2012

Arte do caranguejo

palavras de maria da conceição:

" Há mais de vinte anos que o meu marido (Gonçalo Rito de 69 anos) anda ao caranguejo. No tempo do escudo o caranguejo era a 60 escudos o kg a partir de outubro, em junho, que é quando ele falha, porque é o tempo dos chocos, então aí começavam a pagar 90 e 100 escudos. Agora quando veio o euro o caranguejo passou para 25 cêntimos, mas sai a 20 ao pescador porque cinco ficam na lota. De maneira que niguém quer trabalhar nisto agora.

O caranguejo é embalado em sacos de 15 kg, às vezes de 10 kg, porque são muitos sacos e isto é um bocado trabalhoso e é muito pesado. Agora ninguém quer, vai o meu marido e o marido da Maria Eneida, o Manuel Mole, não vai mais ninguém.

Até outubro o caranguejo é pequenino e está enterrado por causa do choco e das águas quentes, só se levanta quando a maré alta lhe chega. Ontem o meu marido foi à ria e trouxe 12 sacos, são 150 kg, a 20 cêntimos veja quanto é que dá, hoje saiu para a ria às 4 da manhã e só para as 4 da tarde é que deve estar por aí. Depois é preciso arrumar e arranjar os sacos para a encomenda e ficamos até noite, 6 horas, sete horas da tarde ainda estamos aqui.

Isto é uma vida que já ninguém quer, nós já não temos idade para mudar de vida mas isto é muito mal pago."

o caranguejo é adquirido por um comprador espanhol, que vem duas ou três vezes por semana e que o leva para a galiza, onde é usado para fazer pasta de caranguejo e como isco para a dourada e para o polvo.

em tempos esta arte deu de comer a muitos pescadores, hoje, na murtosa só estas duas bateiras restam, entende-se pela diferença dos preços de compra no tempo do escudo e na era do euro, o porquê do desaparecimento de quem se dedique a esta arte.

a arte de manuel mole

manuel mole arma 34 bolsas, que são largadas individualmente nos canais da ria, cada bolsa assenta no fundo e é identificada pela bóia que lhe está amarrada.

as bolsas ficam cerca de 1h30m na água, dependendo da força das marés - quando a água começa a parar no fim de maré até ao momento em que começa a correr mais na seguinte - e são levantadas a cada quarto de hora para retirar o caranguejo apanhado.

a pesca é muito variável como toda a pesca artesanal, à abundância no tempo frio sucede a escassez nos meses mais quentes - de junho a outubro.

de qualquer modo os custos fixos são sempre de 20 euros para o isco e um mínimo de 15 euros para gasolina.

o tempo de trabalho, entre a partida e a chegada da ria é de 12 horas.

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