domingo, 30 de junho de 2013



O SORRISO DA CACHORRA 

CAPÍTULO 1

 Parte 1
Início das aulas
Era uma segunda-feira de fevereiro. Como sempre naquela época do ano, fazia um belo dia de sol. Sentado na calçada, André esperava o ônibus do meio-dia com destino à escola. Como era o primeiro dia de aula, ansiava por rever seus colegas, já que os amigos, mesmo de férias, estavam sempre juntos. Dezesseis anos, cabelos castanhos, longos e cacheados, magro, pele branca, apesar das férias e de suas caminhadas na praia. Os óculos de arame redondos davam-lhe um ar de intelectual.
Para chegar a sua escola, subia uns 800m pela ladeira da catedral, que, apesar de íngreme, ele ascendia sempre no mesmo ritmo, pois acreditava que passos lentos demonstrariam fraqueza. Chegava sempre 30 a 40 minutos antes do início das aulas.
A escola tinha uma linda fachada, com escadaria e um grande portão de grades. Havia também escadarias internas e janelas com sacadas, com uma vista da parte baixa da cidade, de onde era possível ver o oceano Atlântico, de um azul profundo, riscado em suas margens por ondas brancas.
Era uma escola com quase 50 anos. Mesmo com a grandiosa fachada, os alunos entravam por trás, talvez por ser numa rua mais movimentada ou por opção sexual do dono da escola, um velho padre bicha. Nos fundos havia duas entradas: uma que servia à passagem dos alunos e a outra, a funcionários e professores, que se iniciava por uma escadaria. À direita dos degraus ficava a secretaria, e à esquerda, a sala do diretor. Logo à frente, uma porta se abria para um corredor de aproximadamente dez metros de largura por uns cinquenta de comprimento, com quatro salas de aula de cada lado. A entrada dos alunos era paralela a este corredor. Atrás da sala do diretor, também havia um caminho, só que bem mais estreito, tendo apenas uns dois metros de largura. O final desta passagem dava para um grande pátio com três mastros, onde eram hasteadas, às segundas-feiras, as bandeiras do país, do estado e do colégio.
Mesmo tendo convivido com seus amigos nas férias, reencontrá-los era muito bom. Então começaram a chegar. Primeiro Antônio, também com dezesseis anos, cabelos pretos curtos e penteados para trás, magro de pernas compridas e bem barbeado, pois, apesar da idade, já apresentava barba; tipo latino, tinha um belo senso de humor, contava boas piadas, como se fossem verdadeiras. Isso o fazia muito sério. Depois dos cumprimentos de praxe entre amigos, abraços e apertos de mãos, passaram a aguardar a chegada dos outros. Os próximos foram os irmãos Diniz. O mais alto, era o mais novo, tinha cabelos pretos lisos e a cara de abestalhado, mas era muito estudioso. Já seu irmão Charles, nome muito apropriado — pois andava tal qual Charles Chaplin —, era baixo, cabelo aberto ao meio, também preto. O último, como sempre, o “Doutor”, como era chamado José M., já prevendo sua carreira como médico, vinha, nas pontas dos pés, todo bronzeado. Imagine o “Doutor”, meio gordinho, todo suado, subindo a tal ladeira!
Estavam reunidos próximos as bandeiras, falando sobre as novas meninas, quando Patrícia apareceu. Ela era nova na escola e estava acompanhada por também novos alunos, os pequenos burgueses que reprovados nos colégios de ricos tentavam se recuperar nessa escola. Brincavam como se tivessem intimidade e como se já fossem alunos antigos. Ela tinha cabelos longos, negros, pele branca e olhos verdes, uma combinação perfeita. Era a única aluna que não estava de farda: vestia jeans e blusa branca de botões, muito sorridente.
E, como se não bastasse estar na mesma escola que ela, André estava também na mesma sala. Não comentou nada com seus amigos, pois ainda não sabia o que dizer. Ele sentava na primeira fila, pois, mesmo usando óculos, não enxergava bem; ela mais atrás.
Uma semana se passou e finalmente ele resolveu conversar com seu amigo Antônio. Comentou como era bela aquela menina e que tentaria se aproximar. Então seu amigo lhe perguntou se estava louco em se envolver com mulher casada e, além do mais, grávida. Ela estava com três ou quatro meses de gravidez e ele nem tinha percebido. O tempo foi passando e ele deixou de lado seus planos de aproximar-se, já que não se envolveria com uma mulher comprometida. Os meses se passaram, ele se destacava por ser um excelente aluno e por sua ativa participação política; e ela, por ser linda e cativante, espalhava risos e alegria para todos.



Um comentário:

  1. Daniel Barros,

    O primeiro capítulo de um livro eu acredito que seja o mais importante do romance... E você conseguiu prender a minha atenção nessa primeira leitura... Eu estou aguardando o segundo capítulo... Vou querer saber mais sobre o André e a Patrícia... E como vai ficar esse sentimento do André por ela...

    Até o próximo capítulo,

    Manoel Hélio
    poeta

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