Capítulo 9 - O Sorriso da Cachorra
Volta às Aulas
Na segunda-feira, não acordara cedo. Ficara o máximo possível
na cama. Quando despertara não saíra do quarto até a hora de ir para escola.
Almoçara e fora à escola. Encontrara Patrícia no pátio principal da colégio,
mas ela não o cumprimentara, como se não o tivesse visto. Ele a procurou no
intervalo e ela dissera que precisavam conversar, mas não poderia ser naquele
dia. Marcou então, para o dia seguinte na loja de doces. Imediatamente, ela lhe
virou as costas e foi conversar com Marta. Ria e brincava como se nada tivesse
acontecido. Ele então procurou seu amigo Antônio, pediu desculpas pelo dia
anterior e contou-lhe toda a história, e se desculpou por não lhe ter contado
antes a pedido dela. Antônio entendera e falou que já desconfiara, mas esperara
que ele mesmo contasse. Abraçaram e despediram-se.
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No dia seguinte, ele mantivera sua rotina; estudo pela
manhã e à tarde aula. Após as aulas, como haviam combinado, foi ao encontro na
loja de doces. Cumprimentaram-se e começaram a conversar. Ela já havia
decidido: não ficaria com ele. Patrícia afirmara não lhe ter visto, o que era
impossível. Mas não podia perder a razão, e assumir tê-lo traído não adiantaria.
Ele insistira, mas ela foi irredutível. Tudo bem! Seguira o conselho de seu
irmão, mas não dera certo. André saíra da lanchonete primeiro que ela. Estava
tranquilo e até sorria. No fundo sentia-se aliviado por não ter que ficar com a
pessoa que lhe atraiçoara, apesar de estar apaixonado.
Uma semana se passara tranquilamente. Quando, um dia, no intervalo
das aulas, ela passou por ele e colocou algo no bolso de sua calça. Ele pegara
o papel e vira que era uma cantada que costumava vir nos confeitos da época.
Dizia que estava com saudades. Ele sorriu para ela e voltou para sala de aula, o
sorriso despertara nela a ideia de voltarem, mas ficou na dela. No dia
seguinte, André, Antônio e “Doutor” José estavam conversando e ele brincava com
uma caneta, fazendo ilusão de ótica, balançava a caneta entre os dedos
fazendo-a parecer estar mole. Quando ela chegou e, de brincadeira, pegou a
caneta. No momento em que foi devolver, ela pegou em sua mão e eles se olharam
pausadamente. Antônio notou e tentou sair do local, mas ele colocou o braço no
ombro do amigo e o deteve. Antônio entendeu que ele não queria ficar a sós com
ela e imediatamente passou a assumir as brincadeiras e piadas, como lhe era de
costume. Eles continuaram juntos, mas agora na presença de Marta que chegara
logo depois de Patrícia. Passaram o intervalo conversando. Eles não paravam de
se olhar, quando a sirene do fim do intervalo tocou. Despediram-se com um
aperto de mãos e voltaram para a aula.
À noite, depois de jantar e assistir ao jornal, enquanto
se preparava para ler uns poemas que seu irmão escrevera, o telefone tocou. Sua
mãe atendera e dissera que era para ele. Era ela! André ficou surpreso.
Patrícia falou para ele que estava com dúvidas em Química e se ele poderia
ajudá-la. Essa desculpa ele já conhecia, mas “tudo bem”. Solucionado o
problema, ela começara a perguntar a ele se não sentia saudades. Ele respondera
que sim, mas que a decisão de separar-se havia sido dela e, como a prometera no
passado, jamais a procuraria... Ela lhe falara que sentia muito sua falta e que
gostaria de conversar pessoalmente, que já não tinha mais nada com seu
“ex-marido”, e se poderiam se encontrar. André falou que sim e que marcaria o
dia, mas não poderia ser pela manhã porque ele estudava, mas que assim que ela
o quisesse, encontrar-se-ia com ela. Então ela ficou de ligar outro dia.
Foto: Henry Costa |
*Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em
Brasília, é autor dos romances O
sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, em
processo de edição, Editora LER, Coletânea Contos
Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto
a Noite Durar editora APED.
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