sábado, 14 de setembro de 2013

TRIBUNA ESCRITA RECEBE "SARGAÇOS" DE RAIMUNDO PALMEIRA POR EDVALDO ROSA

Intrigou-me o titulo do mais recente livro de Raimundo Palmeira, “Sargaços”, pelas referencias que suscitou em mim e pela possível oposição á “Maresia”, um de seus livros de poemas. No entanto, após a leitura deste tomo, ficou clara a pertinência do mesmo, para este livro, onde o poeta Raimundo Palmeira, reafirma mais uma vez o seu talento e sensibilidade, em poesias de um lirismo refinado, de uma plasticidade vivaz, numa escrita precisa. Os poemas de “Sargaços” são frutos de um poeta amadurecido, que faz uma reflexão aguda de si, de sua vida, de seus sentimentos, em cortes generosos de saudosismo, arrependimento, solidão, de reencontro com um passado, do qual Raimundo Palmeira se ressente de não poder viver mais... Assim, “Sargaços”, traz poemas profundos, sensíveis, apaixonados, vibrantes, mas que divergindo dos apresentados em “Maresias” , são mais acabados, no sentido de que não propiciam ao leitor o mote para um dialogo... Se “Sargaço” não é um reflexo do que Raimundo Palmeira tem dentro de si, em seu coração, em sua alma, acrescente-se ao currículo deste extraordinário poeta a criação de um eu lírico cheio de personalidade e credibilidade. E a leitura destes poemas propicia a um só tempo, que conheçamos Raimundo Palmeira intimamente, e nos reconheçamos nessa intimidade, através deles. Em tempo, “Sargaços” complementa e interage com “Maresias”, pois enquanto é um mergulho ao âmago do poeta, conotando uma certa imobilidade, deixa ás claras o que traz para “Maresias” tamanha agilidade de movimento. “Sargaços” é em sua introspecção marcado por flashes preciosos, de um lirismo encantador, que trás prazer á leitura, o que nos anima para percorrermos as suas páginas, onde estão á nossa espera sessenta belos poemas, talhados com extrema inspiração! O tom predominante em “Sargaços” é o do pretérito, mas imperfeito, já que o que já foi vivido ainda ecoa fortemente, é o que transmite poemas como “Pedaços de Nós Dois”,” Falando de Nós”,” Ocaso”... É digna de nota, a importância que o contato com outros, assume, e que transparece nas poesias de “Sargaços”, pois, Raimundo Palmeira valoriza o contato, a convivência, a interação entre almas distintas, o que de certa forma lhe dá o tom exato de si mesmo; é o que aponta as poesias “Vício”,” Poeminha de Mar”,” A Tecelã” entre outras. O lirismo presente em suas poesias faz com que nos deparemos com uma gama de sentimentos variada, em ”Sargaços” a solidão não estará presente em “Sacerdotisa”,” Inspiração”, como está claramente em “A Doce Solidão dos Hotéis”? Enquanto o refazer-se, o reinventar-se se apresenta em “Fênix”, “Furtar Cores”, “Jardineiro”! O lirismo em “Sargaços” é romântico e sensual, na medida em que um poeta assume ser, ou seja, sem medida... Este romantismo transborda livremente, sem medos ou pudor em “A Mulher à Beira-mar”, “Erótica”, “Espelho de desejos”, a minha preferida... Este livro trás indícios de muitas possíveis musas do poeta, já que a mulher tem presença constante em suas páginas... “Anjo Loiro”, “Aeromusa”, entre outras poesias não seriam marcas da presença delas neste livro? E “Érica (a flor)” será que é somente uma flor? E qual delas teria machucado tanto o seu coração, para que escrevesse tão belo poema “Encantadora de Corações e Estrelas”? Como poeta Raimundo Palmeira tem algumas preocupações e questionamentos, muito pertinentes e atuais, que transparecem em poemas belíssimos, dentre os quais: “Ipanema não tem graça”, ”A Arte do Adeus”, “Oração”,” Vitrines”. Mas, uma das qualidades que muito chamaram a minha atenção em Raimundo Palmeira é a facilidade que ele tem em seus livros, de dar espaço ao homem Raimundo Palmeira, sem nunca desfavorecer o poeta. As suas poesias em homenagem aos seus, são belíssimas e tocantes, profundas em sensibilidade e agudas em significados... Em destaque neste “Sargaços” os poemas “Olhos de minha mãe”,” Minha esposa”, “Calçadas”,” Marina dos olhos de mar”. Após a leitura destas poesias, entre outras, fica em nós, leitores e admiradores a certeza de que Raimundo Palmeira sabe muito bem determinar no horizonte de seu mundo poético, onde esta o homem e onde esta o poeta, se bem que este limite me pareça quase tênue e fugaz... Raimundo Palmeira é assim, um iluminado, ou antes, ou simultaneamente, um prisma, onde são decantadas todas as matizes da própria luz que o ilumina e que dele faz uso para se refletir! Poderia um homem assim ser “um especialista em sofrer”, como está escrito em “Sob o signo da estrela solitária”? Que a sensibilidade de seus inúmeros leitores, possa colher uma possível resposta nos inúmeros poemas constante neste belíssimo “Sargaços”! Vou ao poema que dá o mote e o titulo do presente livro, “Sargaço”, inspiração marinha de Raimundo Palmeira; e digo que tudo o que foi aqui exposto pode ser apenas “Areia do mar levemente embevecida a mirar ilusões / Que se desfaz entre espumas, que envolvem os pés de um só.” Edvaldo Rosa São Paulo – São Paulo 12/05/2011

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