Capítulos 18 e 19 - O sorriso da cachorra
A Escolha do Orador e a Formatura
Iniciaram-se os preparativos para a formatura. André não
participara das discussões sobre a festa e o baile, mas era sempre informado
por Patrícia, que participava das reuniões. Tudo transcorria normalmente até
que marcaram o dia da escolha do orador, porém Patrícia combinara com Marta e
com outra amiga que não informariam a André da tal reunião, pois não queriam
que ele participasse, já que seria eleito com facilidade como orador. Nesse
mesmo dia escolheriam o paraninfo da turma e tudo mais. Ao saber do que
acontecera, André ficou furioso. Seus amigos protestaram, queriam uma nova
reunião em que André seria candidato, pois na anterior informaram que se ele
não estava presente porque não queria ser orador, o que era mentira, pois ele
não soubera da reunião. André nem pensava mais na formatura, estava tão
decepcionado com Patrícia que perdera o ânimo de disputar. Pediu então ao
“Doutor” que não marcasse outra reunião, pois ele não participaria da formatura.
Antônio não entendia, pois estava com muita raiva, porém mais uma vez apoiara o
amigo, e também resolvera não participar. No entanto, desta vez a revolta não
ficou restrita aos três amigos. Mais de 50% da turma também não gostaram do que
aconteceu, e também decidiram não participar. No dia da formatura metade da
turma não fora à colação de grau.
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O baile ninguém perderia, é claro, e ele também não. Ela
estava linda! Tinha o cabelo todo preso, formado por pequenas tranças, e seu
vestido era azul, feito de linha. Ela estava muito bonita! Haviam assumido o
relacionamento perante os colegas e podiam dançar e beijarem-se livremente, e
aproveitaram. Antônio estava saindo com uma colega de turma, linda morena,
olhos pequenos e negros, belos cabelos castanhos longos, e tinha ainda um
sorriso maravilhoso, a pele morena aveludada, os seios fartos e um bonito corpo
de menina. Estava sempre sorrindo e se chamava Joyce. Era realmente linda!
Patrícia e André dançaram por um tempo. Estavam muito
alegres por estarem juntos e poderem dançar em público. Pela primeira vez, mas
estavam loucos para ficarem a sós. André pediu a chave do carro de Antônio e
convidou Patrícia para acompanhá-lo até o veículo, como pretexto de pegar uma
máquina fotográfica, que nem existia. Ela entendeu e aceitou. Mal puderam
chegar ao carro, pois estavam loucos de paixão. O automóvel estava num local
tranquilo e como era cedo ninguém sairia do baile àquela hora. Ele a beijava,
afagava sua nuca e suas costas ao mesmo tempo, e ia descendo a mão por suas
costas até seu bumbum. Por baixo de seu vestido acariciou suas coxas
calmamente. Tirando sua calcinha percebeu o quanto ela estava excitada. Fizeram
amor ali mesmo, e foi divino.
O vestibular
Para André o vestibular era muito importante. Sua mãe não poderia
pagar uma faculdade particular, nem ele admitiria. Tinha perdido alguns dias de
estudo e tinha que recuperar... Então preparou o local de estudo: uma mesa de
madeira com espaço suficiente para seu material, e escolheu para sentar um
banco circular de cor amarela, sem encosto, pois acreditava que o conforto lhe
daria sono. Determinou a si mesmo que estudaria no mínimo doze horas por dia e
que os intervalos para as refeições não estariam incluídas nesse período.
Iniciava sempre às sete da manhã e terminava por volta das vinte e uma horas.
Às vinte horas parava para jantar e assistira ao jornal na tevê ao mesmo tempo.
No meio das manhãs e das tardes era interrompido por sua babá, Tetê, que
entrava no quarto com leite e biscoito ou pão. Ela estava sempre pedindo para
ele parar um pouco para descansar. Ele respondia a mesma coisa: “a gente
descansa quando morre, Tetê”. Já seu avô não o interrompia, mas continuamente o
fazia tomar um copo de “garrafada” antes de iniciar o dia. Era uma bebida
afrodisíaca e energética, feita pelo seu avô, uma mistura de ervas, de gosto
amargo, mas parecia que funcionava bem. Só se encontrava com Patrícia nos
finais de semana, quando só estudava oito horas. Às vezes ela ia à sua casa à
noite durante a semana.
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Os dias de provas foram tranquilos. André ficava muito
calmo durante a realização dos exames. Entrava com o pensamento de que tudo que
ele precisava para fazer uma boa prova já estava com ele e que não pudera fazer
mais do que fizera. Sempre entrava confiante.
No dia do resultado, tudo era diferente, estava muito
nervoso, apesar da informação dada por seu professor de física, especialista em
vestibular, de que ele estaria aprovado, com base na pontuação que tinha feito,
e que estaria na primeira turma com folga. Todos se encontraram na Praça
Sinimbu, onde ficava a reitoria, o restaurante universitário, e onde seria
divulgado o resultado. Todos estavam juntos, Diniz, seu irmão Charles, Antônio,
Marta, Tatu, a menina ruiva... enfim, toda a turma. Doutor estava presente, mas
era o único que tinha ido com os pais, e então não ficara com o grupo. Charles
propôs beberem “uma lapada de cana”. André aceitou prontamente. Como não tinha
comido o dia todo e já passava da hora do almoço, só com esta cachaça já ficou
tonto. Mas à medida que os resultados foram saindo, a festa ia aumentando.
Marta passara, Antônio também. Quando iniciou a divulgação do curso de André,
seus colegas já estavam com ele nos braços a cortar-lhe o cabelo; ele nem
ouvira seu nome ser divulgado. Quando passou a euforia, ele perguntou para
Patrícia se ela havia escutado realmente. Ela dissera com um sorriso radiante
que sim. Ela falara para todo mundo que fizera arquitetura, o que não era
verdade, mas, para ele, ela falara a verdade. Quando saiu o resultado de arquitetura
todos ficaram tristes, pois ela era muito querida pela turma. Já não faltava
mais ninguém e a turma queria ir embora comemorar, mas eles alegaram que
estavam esperando o resultado de um primo de Patrícia. Quando saiu o resultado
de medicina, todos já estavam juntos do Doutor, e foi uma choradeira de seus
pais quando saiu o resultado, ele passara na primeira turma. Iniciou o
resultado do curso dela, todos faziam muito barulho e eles se afastaram. Ao
sair o nome de Patrícia, os dois pularam, abraçaram-se e choraram. Todos
queriam abraçá-la, mas ela não largava o pescoço de André, não queria mais
ninguém, e ele sentiu o quanto ela o amava. Foram para um apartamento de uma
colega e comemoraram até o outro dia.
*Daniel
Barros, 45, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos
romances O sorriso da cachorra,
Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED,
2013.
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