isto são moliceiros
os moliceiros têm vela (34)
do medo
o medo é grande nas terras
pequenas
nas terras do tamanho das
gentes delas
o medo senta-se à mesa
do café
pede uma bica um copo
de água
o jornal da mesa do lado
se vago
o medo fuma um cigarro
o medo invadiu as casas
cegou muitos
paralisou alguns
calou quase todos
uns porque sim
outros porque também
o medo detém meios
oferece lugares
distribui subsídios
piquenos trabalhos
alguns favores
o medo é bom senhor
o medo passeia a gravata
pelas ruas no carro de serviço
o medo sorri pela janela
acena a quem passa
o medo é educado
o medo tem a sua corte
e o silêncio dos restantes
o medo inundou as ruas
transbordou para as praças
o medo
parou à porta do cemitério
porque depressa concluiu
que chegara tarde
(torreira; regata do s. paio; setembro, 2014)
https://ahcravo.wordpress.com/2015/01/10/os-moliceiros-tem-vela-34/
Parabéns ao poeta que superou o medo que todo o início de poesia nos aflige.
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