sábado, 17 de outubro de 2015

o meu amigo ti zé costeira

a bateira do ti zé costeira



postais da ria (105)


o meu amigo ti zé costeira


nos últimos anos
caminhava pesado até à bateira
a cana de pesca bengala
remava atá ao meio da ria
voltava com algum peixe para o almoço

os dias repetiam-se e ele dentro deles
dentro do silêncio dentro da bateira
na ria

primeiro arrumou a bateira
cobriu-a com plástico
depois morreu a mulher
o plástico começou a rasgar-se
e ele

falei-lhe quando já não era
mostrou-me a casa os troféus
contou-se por momentos
viveu

não sei como estará numa casa
entre quatro paredes auxiliares
refeições certas medicação a horas
um sofá a cama o silêncio os outros

onde a ria?
eu vejo-o sempre lá no meio
a dar vida às águas mortas

(torreira; 2015)

http://ahcravo.com/2015/10/17/postais-da-ria-105/

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