terça-feira, 21 de março de 2017

Embaixada da Poesia


Inteiramente a favor de sempre persistir neutro. Até mudar de posição. 
(Madrugada de 15 de maio de 2015)

Acho que a era das raspadinhas passou. Ontem fui tentar a sorte e não achei nenhuma à venda. Não, não é trocadilho... Foi real. Cheguei à lotérica e não havia uma raspadinha sequer colada no vidro do caixa ou pendurada na banca de jornal logo em frente. Simplesmente sumiram! – Mas vamos ao que interessa, ou nem tanto... Hoje no trivial banheiro matutino fiquei pensando em quantas estradas escolhemos ao longo de nossas vidas; quantos caminhos dentro dos caminhos, quantos atalhos, ruas desertas, muros altos e baixos tivemos que pular... E os posicionamentos? Alguns rápidos em escolhas difíceis, alguns difíceis em longas escolhas, os lugares que dividimos e amizades que escolhemos ou que escolhem a gente. Algumas escolhas que adotamos nas nossas andadas nessa roda gigante alucinante chamada vida (na verdade está mais para montanha russa) têm implicações eternas, cicatrizes agudas que nos lembram todos os dias de tais fatos (lembro-me que já escrevi um poema sobre isso) – (esse papo de roda gigante lembrou-me do Tivoli Park que eu ia quando guri). Só você conhece tão bem suas estradas passadas, seus prantos feliz e triste, seus gigantes e anões abatidos, seus problemas sem solução e os solucionados, seus sonhos mais íntimos e pesadelos bizarros, gostos e desgostos, agradecimentos e revoltas. Só você conhece essas coisas tão bem. Mas mesmo assim poucas pessoas realmente se conhecem. Andamos em círculos quando não aceitamos aquele arrepio na nuca, aquele medo de tal passo, aquela ausência da zona de conforto. Para cada temor que haja comedimento; para cada angustia que haja paixão. Havia anteontem um belíssimo desenho em um muro que seguia e acabava ao longo do meu quarteirão, até a minha esquina. Ontem me deparei com tudo cinza, pois pintaram por cima – não entraram no clima. Hoje irão demolir o tal muro para construir uma enorme oficina. É o fim da linha; é o rabo abanando o cachorro. É quase um truque do destino, uma peça pregada pelo tempo que tem pressa em cima do fadário etário do velhinho de outra era. Já era! A criação faz de tudo para estar absoluto para o criador; no dia seguinte tudo é hoje e o amanhã é amanhã, mas o ontem sempre será passado. Duas vezes as estradas se cruzaram, uma no inicio e outra no fim; por duas vezes a vi desvairada, antes do início e antes do fim. É loucura, mas nunca foi dito o inverso; é sonho, mas nunca se acorda para saber. Dou uma dentada no meu sanduiche no pão doze grãos com alface, rúcula, manjericão, camarões médios fritos, queijo ricota e um pouco de açafrão. Açafrão é extraído dos estigmas das flores, do sexo delas; tem gosto aprazível e é um excelente tempero... A meu ver. Pão de maluco às uma e meia da manhã. Vou pintar meu corpo para a guerra, levar minha melhor espada e preparar meu grito. Preparo também o palpite e aposto todas as minhas fichas no inimigo... Perdendo ou ganhando eu ganho. É estranho? – realmente é! Já ouvi falar em alma que fica vagando sem poder pertencer a lugar algum. Ficam presas na lama do limbo, sem esperança e destino... Apenas ficam. Amanhã vou atrás das raspadinhas lá pelas bancas do centro. Quem sabe por lá tenho sorte.

André Anlub

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