terça-feira, 22 de março de 2016
Meu cavalo
O livro que fez meu cavalo livre
(3/6/13)
Parte I
A priori...
Tudo está a contento, e sobrevivi!
Lembro-me da vastidão do picadeiro,
O cavalo da loucura em galope louco.
Nunca se deixa de fazer pouco
Quando tudo se tem...
É você em primeiro!
Alucinações, parábolas, cogumelos,
Nos desenhos, moravam duendes,
Pras crianças, eram casas...
Salgados caramelos.
Cavalguei sobre o campo de tulipas
Amassadas pelas pegadas do cavalo.
E na queimada da mata...
Pelo ralo foram-se alguns anos,
Pelo corpo farejei meus desenganos.
Chorei ao deparar-me com o tempo perdido
E no dito e não dito que ignorei.
Com a felicidade tinha perdido o compromisso
E no chumaço do chá de sumiço,
Hoje me achei.
Enfim, estacionado o cavalo,
Dei banho, água e feno,
Abri o cercado do terreno
E o deixei livre ao regalo.
Se todas as tulipas fossem negras
(4/6/13)
Parte II
Meu cavalo nesse momento é livre,
Porém, ainda com alguns fantasmas.
Também há as estradas íngremes
Que estendem um tapete vermelho para o nada.
Agora as tulipas estavam inteiras,
Não mais pisadas pelas patas.
Brilhantes tulipas, com cores vivas
E força para enfrentar a tempestade.
O amanhã próximo de letras e tintas:
A sina que mudaria o caminhar.
Nas mãos, preparados para tocar a alma:
Os livros de Emily Dickinson e Sylvia Plath.
E as tulipas se tornaram negras
Ao conhecerem sua história e sua dor.
Regadas e afogadas pelas flores coloridas
Que também afogaram junto seu rancor.
E meu cavalo livre...
Hoje tenho novo cavalo,
Ele está perto, mas não temos contato.
Ele me inspira, traz força e medo,
Me respeita e impõe respeito.
O coração se abre, vejo meu próprio inventário...
Martírio empoeirado de um achaque guardado
E o amor incrustado de um todo imaginário.
Hoje a vida é um constante cenário,
Como o mar que me conhece
Até mais do que eu mesmo.
A moradia na emoção
É o botão da alma incendiária.
Pago a diária desse hotel
Com a locação do meu bordel,
Com o papel, meus rabiscos
E a loucura ponderada.
Os cavalos, as tulipas e uma vida
(7/6/13)
Parte III
Meu cavalo relinchou por comida,
Quer algo esquecido e sem fim.
Quer banquete farto e antigo,
Quer minhas loucas iguarias,
Pois já está farto de capim.
Meu cavalo veio à minha porta
Nessa torta manhã de domingo.
Ouvi com delicadeza sua clemência
E chorei feito menino.
Mais uma vez só vejo as tulipas negras
E o verão mergulhado no inverno.
O inferno com suas portas abertas,
Badalou os sinos
E colocou o capacho escrito: “bem-vindo”.
Mas, minha gente amiga...
Beijo a vida vadia.
Deem-me as mãos, me deem guarida,
Não quero ser julgado. (é covardia)
Como réu confesso, meu cavalo se vai,
Some ao longe, pelo canto da estrada.
Sua estada é sempre trágica
E, como mágica, ressuscita as tulipas.
André Anlub
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