segunda-feira, 16 de maio de 2011

Linha tênue entre a vida e a morte

Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC


Um jovem em crise existencial. Seria completamente aceitável se ele não fosse um zumbi. R. é o protagonista do livro de estreia do norte-americano Isaac Marion, "Sangue Quente" (Leya, R$ 35, 252 páginas). A obra tem como cenário um mundo destruído pela guerra, onde imperam o colapso social e a fome dos mortos-vivos.

Em entrevista exclusiva ao Diário, o autor contou quais foram as inspirações para escrever o livro que deve virar filme pela Summit Entertainment, a produtora da "Saga Crepúsculo". "Tudo começou como uma história simples e curta sobre um dia na vida de um zumbi. Mais tarde, decidi expandir esse conceito em uma novela. Posso dizer que tudo o que escrevo é baseado em torno de minhas histórias e nas intensas relações humanas", afirma. "Eu não pretendo escrever nenhuma sequência. Acredito que a história foi contada".

Marion nos apresenta um zumbi sem memórias, sem perspectivas, mas consciente de sua condição. Ele sabe que morreu e está fadado a perambular por um mundo devastado. Mas almeja algo mais do que o sangue e o cérebro de humanos para saciar a sua fome.

Depois de experimentar as memórias de um adolescente, enquanto comia o seu cérebro, R. faz escolha inesperada. Começa relação intensa, desajeitada e estranha com a namorada da vítima. Julie é uma explosão de cores em meio à paisagem triste e cinzenta que envolve R.. A decisão de protegê-la irá transformar não só o R., mas talvez o mundo inteiro sem vida. Assustador, engraçado e comovente, o livro é sobre a linha tênue que existe entre a morte e a vida.

O romance entre zumbi e humana pode parecer absurdo para quem cresceu com o ideal do príncipe e do cavalo branco. Mas os relacionamentos sobrenaturais vêm se tornando comuns. Para o autor, a mudança de par ideal está relacionada ao estilo de vida. "Em épocas mais antigas, as meninas ansiavam por personagens puros e nobres como príncipes porque as suas vidas diárias estavam longe dessa realidade", afirma. "Nos anos 1950, os tempos eram bastante difíceis. A vida não era tão confortável como é agora. Isso combinado com o maior nível de repressão social e moral trouxe a ideia do cavaleiro de armadura brilhante". Hoje, segundo Marion, as pessoas estão mais entediadas, frustradas e sufocadas. "Praticamente não existem aventuras. Monstros sobrenaturais são imprevisíveis e oferecem fuga da vida das pessoas mundanas", analisa.

No entanto, "Sangue Quente" não é apenas um romance ficcional. É uma história em linha reta desde o início, que não se preocupa apenas com o fim de um zumbi apaixonado. O livro trata da eloquência da vida e dos conflitos sociais e emocionais. A perda da humanidade, a autodestruição e o isolamento das pessoas fazem parte do contexto. "Os contos de fadas ou histórias sobrenaturais em geral são ótima plataforma para as metáforas que falam de questões do mundo real. É possível ocultar a sua mensagem dentro de uma história, o que é realmente divertido porque pega as pessoas desprevenidas", diz Marion.


http://www.dgabc.com.br/News/5886023/linha-tenue-entre-a-vida-e-a-morte.aspx, publicado 16/05/2011, acessado 16/05/2011.

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