SOBRE " O SORRISO DA CACHORRA"
Fernanda Suhet
“Se queres ser universal, escreve sobre tua aldeia”
(Tolstoi). E eu acrescento que se quiseres falar sobre a alma humana, abre ao
mundo a tua. E é isto que Daniel Barros consegue em “O Sorriso da Cachorra”, um
romance envolvente no qual apresenta ao leitor a leveza e a fascinação
apaixonada de dois jovens. Mas por trás desta delicadeza temática existem
dramas masculinos universais: o primeiro amor, o deslumbramento, a dor, a
decepção, a esperança que renasce, o fluxo do futuro e o destino insondável que
não respeita sonhos ou desejos.
Na história, Patrícia é a encarnação perfeita da alma de
André, mas a necessidade de autoafirmação masculina não o impede de
fragmentá-la e dividi-la em outros corpos e rostos. O tema do alcoolismo como
elemento de suporte emocional para a alegria e a tristeza também deixa
transparecer a insegurança juvenil que André procura superar de todas as formas
para dar o melhor de si, seja como estudante, seja como profissional e adulto.
Com forte cor local, o livro caminha com o leitor pelo
cenário das paisagens de Recife, e outras localidades nordestinas, com suas
praias, bares, rotinas e monumentos. Mas também tinge-se de crítica social e
política, mostrando o descaso com o trabalhador sertanejo e a crueldade
‘senhores da cana” e da fome. Por tudo isto, considero este livro com um
daqueles que tem tudo para tocar profundamente aos leitores e se fazer presente
na memória por muito tempo, se não para toda vida – como bem o fazem os
romances universais.
(Fernanda Suhet - psicanalista e escritora
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