Capítulo 8 - O sorriso da cachorra
Era domingo e seu irmão estava de folga da sonda de perfuração
de petróleo. Estava muito cansado e então resolveu não ir à praia. Assim
ficaram conversando, bebendo cerveja e comendo sururu com farinha e pimenta.
Fazia um calor enorme, mas as cervejas os refrescavam.
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Nos finais de semana, André não encontrava Patrícia, pois
ela tinha que ficar com seu bebê, o que era perfeitamente compreensível. Aquele
domingo precedia o primeiro dia de aula, e ele terminara no sábado a revisão
dos livros de matemática do primeiro grau, como havia programado, e estava
ansioso por iniciar o terceiro ano científico. No final da tarde, seu irmão o
convidou para irem juntos à feirinha de artesanato, que na época só funcionava
aos domingos. Era um ponto de encontro da época. A feirinha era realizada em
duas quadras de esporte; com barracas dos dois lados, e uma fileira central.
Eram barracas pequenas, aproximadamente de dois metros por dois e meio, e tinha
um tabuleiro onde eram colocadas as mercadorias, que eram cobertas por uma lona
azul. Muitas pessoas passavam por lá, na maioria, jovens paquerando. De um lado
ficava a avenida e do outro a praia, que ainda tinha alguns banhistas.
Enseada de Pajuçara. Foto: Daniel Barros |
Assim que chegou, André a viu. Desta vez não tivera tempo
de observá-la, pois seu irmão fora logo lhe dizendo: “Não é a Patrícia e o
marido?” Nesse momento entrara em transe; não conseguira pensar em nada. Seu
amigo Antônio passara em sua frente, a menos de um metro, mas ele não
conseguira cumprimentá-lo: o tinha visto, mas não conseguira cumprimentá-lo,
estava atordoado, e sua vista escurecera. Seu irmão colocou o braço em seu
ombro e beijou-lhe a cabeça, pedindo-lhe calma. Ele voltou do transe e pediu ao
seu irmão para confirmar o que acabara de ver. Seu irmão sorriu e o levou. Ela
estava em frente a ele de mãos dadas com seu “ex-parceiro”, mas imediatamente
abaixou a cabeça e puxou o “ex” para a barraca mais próxima, ficando de costas
para André. Voltaram, ele e seu irmão, para casa. Não chorou, apenas calou-se.
Seu irmão já o advertira que aquilo estava acontecendo, e ele não acreditara,
por isso ficara calado. Estava envergonhado de sua ingenuidade. Afirmou
categoricamente que acabaria o namoro! Seu irmão em tom de tranquilidade lhe
dissera: “calma!” Você pode ficar só se divertindo, ela é linda! E você é
novo, e é melhor do que ficar transado com qualquer uma, leve na brincadeira. Ele
concordara. Seu irmão fora dormir; estava muito cansado do trabalho exaustivo,
e acordara cedo. Já era noite quando ele fora a praia de Pajuçara, que estava
deserta! “Que linda praia!”, pensou André: – na verdade uma enseada. Os
coqueirais a margeavam; várias jangadas, usadas no passado para pesca, hoje
eram usadas por turistas para visitarem as piscina naturais, que ficam dois
quilômetros mar adentro. No mar vários barcos de pesca ficam ancorados, que
só são levados à praia quando precisam de reparos. Uma longa faixa de areia e uma calmaria quase que permanente. Ele chegara e ficara sentado nas jangadas. A maré estava baixa. Ele chorou e, pensando em seu pai, prometeu honrar seu nome e que não se deixaria vencer pela dor que sentia; escreveu seu nome e sobrenome na areia e jurou não decepcioná-lo.
só são levados à praia quando precisam de reparos. Uma longa faixa de areia e uma calmaria quase que permanente. Ele chegara e ficara sentado nas jangadas. A maré estava baixa. Ele chorou e, pensando em seu pai, prometeu honrar seu nome e que não se deixaria vencer pela dor que sentia; escreveu seu nome e sobrenome na areia e jurou não decepcioná-lo.
*Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em
Brasília, é autor dos romances O
sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, em
processo de edição, Editora LER e Coletânea Contos Eróticos, editora APED.
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