quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Do drama para a comédia

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC


Camila Morgado só fazia papéis com grande carga dramática por sorte ou azar - ela não sabe. Fato é que a atriz assume o desafio de se mostrar versátil na pele de personagens mais leves.

Durante a carreira, protagonizou o filme "Olga" (2004) e ainda tem a imagem associada à militante. "Fiz uma revolucionária que começa a se apaixonar, o que contraria os princípios do comunismo, e vira mãe. Tive de me aprofundar no processo psicológico", recorda a loura.

Na minissérie "A Casa das Sete Mulheres" (2003), da Rede Globo, também viveu a intuitiva Manuela, sobrinha de líder da Revolução Farroupilha, sua personagem de estreia na TV.

Empenhada em fugir do estereótipo, fez a comédia "Doce Deleite" (2008) com Reynaldo Gianecchini e a jornalista Malu no folhetim "Viver a Vida" (2009). Agora, estreia outra comédia em São Paulo, "Igual a Você".

É fácil ficar estereotipada e difícil mudar, mas a artista alcança resultados. "Sinto que mudei um pouco. Já mostrei que posso fazer outra coisa. Até hoje falam da Malu", exemplifica. Pondo de lado a sisudez do jornalismo econômico, a apresentadora de TV se voltou para o humor em meio a um triângulo amoroso.

Havia tempo que a atriz queria fazer algo leve e ''dar outro respiro''. "A vida também muda em volta", revela Camila. "Quero me apaixonar pelo personagem. Não importa se é tragédia, drama ou humor. Topo qualquer trabalho", frisa.

Nessa transição, o teatro é mais acolhedor em relação à TV, segundo a atriz, que se anima: "No humor, você precisa ser ''atlético''. Deve se jogar na piada. Se não pegou, parta para a próxima. Se não, pode perder outra". Indispensável mesmo é o senso de humor. "Você precisa olhar para a vida e pensar: vamos dar risada".

O teatro é a escola de Camila. "Não tenho muita experiência no cinema. Fiz dois filmes. Não tenho muitas novelas". O que a encanta é o elemento surpresa. "O diretor de teatro até tem domínio, mas sai de cena depois da estreia. Tudo dá errado e não pode parar".

ABERTA PARA CONVITES

Sem a renovação do contrato na Rede Globo, Camila Morgado está aberta, pronta para receber convites de emissoras. "Quero trabalhar", afirma. E adianta: "Não posso depender só da TV. Tenho outro teatro e dois filmes em captação".

Convite para rir das mazelas

No meio urbano, quase todas as pessoas têm algum distúrbio de comportamento. É o que escancara a comédia "Igual a Você", que chega à Capital após temporada bem-sucedida no Rio. Com Camila Morgado, Anderson Muller e Bia Nunes, estreia amanhã, às 22h, no Teatro Raul Cortez.

"Há vários anos comecei a ver que fulano é neurótico, ciclano sofre de síndrome do pânico, beltrano é hipocondríaco. Percebi que muita gente tem alguma doença comportamental. Então, pensei: já podemos brincar", lembra a idealizadora Bete Leporage.

Dirigido por Ernesto Piccolo, o espetáculo que reveza o trio em esquetes reflete sobre obsessão, TPM, hipocondria. "Todos riem porque o incômodo é o mesmo. A insônia vem acompanhada de medo, ansiedade, angustia", declara Muller.

Comportamentos que por vezes as pessoas não querem admitir ganham tom leve. Quando o assunto é ninfomania, o público logo cria defesa. "O texto já tem carga sexual. Não carregamos na tinta. Ninguém imagina que aquela menina de cara angelical vá falar aquilo tudo", adianta Camila.

Para fazer os personagens, Muller brinca que bastou cada um se conhecer melhor e fazer pesquisa. "Uma vez contei: lavo as mãos de 40 a 50 vezes por dia", dispara. Enquanto Camila não dorme sem trancar a porta do quarto, Bete não pode ver um sapato virado.

Entre as esquetes, vídeos de pessoas encontradas na rua aproximam a discussão. "O público se identifica. Vivemos em um mundo ansioso, estressado", analisa Camila.

Segundo Bia, os personagens são bem humanizados. "Vamos sentindo a plateia e dando uma enxertada na peça", afirma. Sem início, meio ou fim, a doença é colocada como se a pessoa acordasse em crise. O cenário móvel permite mudanças rápidas de cena. Não existe blecaute, por exemplo.

Igual a Você Teatro. No Teatro Raul Cortez – Rua Doutor Plínio Barreto, 285, São Paulo. Tel.: 3254-1700. Estreia hoje. De sexta-feira, às 22h; sábado, às 21h30; e domingo, às 19h. Ingr.: R$ 40 (sexta e domingo) e R$ 50 (sábado). Até 24 de abril.


http://www.dgabc.com.br/News/5865245/do-drama-para-a-comedia.aspx, publicado 10/02/2011, acessado 10/02/2011.

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