quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A intervenção militar na líbia e os interesses imperialistas: a farsa da zona de exclusão aérea


Nos últimos dias, o Conselho de Segurança da ONU decidiu autorizar o bombardeio militar na Líbia, sob pretextos de impedir um massacre de Qadhafi aos civis, de agir em situação de “crise humanitária” e de evitar maior ataque aos Direitos Humanos.




Para reavivarmos a memória, registre-se, antes de tudo, que, com o último dia 20 de março, passaram-se já oito anos em que EUA e “parceiros” invadiram o Iraque sob o pretexto de "estabelecer a democracia”. Mas, o que lá se passa está longe do que possa ser considerado como democrático.



Símbolo dessa realidade foi a ação do exército estrangeiro, em fevereiro deste ano, de reprimir covardemente milhares de iraquianos que foram às ruas reivindicar trabalho, pão, eletricidade e água potável. Contudo, nenhuma potência mundial clamou em favor dos direitos humanos e nem sugeriu que as autoridades, ditas democráticas, respondam perante os tribunais internacionais.



Faça-se lembrar, por fim, que a morte de Saddam Hussein demonstra bem a “democracia” oportunista do imperialismo capitaneado pelos EUA.



Parafraseando Tom Zé, ora inventa-se o pescoço, ora inventa-se a corda! É esta a política do imperialismo capitaneado pelos EUA: Qadhafi agora não pode mais ser um bom sócio do imperialismo, uma vez que não seria nada favorável a reconstrução da imagem “estadunidense” e de seus aliados. Logo, corda para o pescoço de Qadhafi! Veja-se: Ora o imperialismo mantém excelentes relações com regimes tirânicos (como é o caso da Arábia Saudita), ora defende a Democracia, defesa esta que demonstra a tendência da política imperialista atual para a região. Longe de se configurar como uma contradição, tais fatos só demonstram a coerência com o princípio do oportunismo.



Através do desenrolar das lutas árabes atuais, logo se mostram os interesses imperialistas envolvidos em cada conflito. Com a “guerra” destacam-se alguns dos interesses gerais dos imperialistas na Líbia: além do interesse já tradicional no petróleo e no gás natural também se mostram os interesses de fazer da Guerra uma vitrine para a venda de armamentos militares (EUA e França são 2 dos 5 países que mais vendem armamentos).



É importante atentarmos para as conseqüências das agressões militares como as que vêm ocorrendo na Líbia, dentre outras: essa invasão tende a aumentar a crise político-social em curso, uma vez que podemos analisá-la como uma atitude de “terrorismo”, em que nunca se sabe ao certo qual será o próximo grupo civil não envolvido diretamente com a “guerra” a ser atingido. Lembramos que esse discurso da “democracia” estadunidense nunca impediu a sua prática terrorista: as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, em que morreram 170 mil civis, demonstram isso.



O caso da Líbia, além de esclarecer o jogo atual dos interesses imperialistas, traz à tona a não eficácia da ONU diante de enfrentamentos a interesses imperialistas. A aprovação da Zona de Exclusão Aérea significa carta branca para a ação militar imperialista em tal grau que o Secretário de Defesa Britânico declarou que Qadhafi também é um “alvo legítimo”. E logo nas primeiras atuações pudemos identificar que a máscara de que a ação seria em defesa de civis caiu.



Entendemos que os interesses imperialistas específicos neste caso são: 1) a contenção da mobilização popular em curso (uma vez que podem fortalecer as mobilizações em países aliados do imperialismo como Arábia Saudita e Iêmen) e 2) uma saída favorável aos interesses imperialistas em relação ao petróleo e ao gás natural líbios.



A votação do Conselho de Segurança da ONU contou com 5 abstenções: China, Rússia (ambas com poder de veto), Índia, Brasil e Alemanha. A favor da “zona de exclusão aérea” votaram Reino Unido, Estado Unidos, França, África do Sul, Colômbia, Portugal, Bósnia e Herzegovina, Gabão, Líbano e Nigéria.



As abstenções “transformaram-se” em manifestações contrárias a intervenção militar logo nos dias seguintes. O Estado brasileiro, por exemplo, divulgou nota pedindo o “cessar fogo” na Líbia. Já o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, afirmou ser a decisão da ONU um “apelo às cruzadas medievais”, uma espécie de cruzadas do século XXI. A China lamentou a utilização da força por parte dos aliados.



O que aparentemente vai se configurando é o quadro mundial em que a hegemonia americana perde força e os chamados “BRIC´s” agem, cada qual, buscando expandir seus interesses, também de tendências imperialistas. Já os governos que reconhecidamente se contrapõem a hegemonia estadunidense saíram em defesa do “amigo” Qadhafi, como o fizeram Hugo Chávez e Fidel Castro, supostamente por ter o ditador líbio o apoio do povo.



No caso específico da Líbia, há um impasse político para aqueles que se colocam à esquerda na luta por um mundo justo, socialista. Apoiar a política imperialista estadunidense está fora de cogitação, uma vez que isto significaria o apoio a uma guerra civil sangrenta e ainda mais prolongada, a espoliação do petróleo líbio e a negação do direito do povo de se autodeterminar. Também não é possível apoiar a ditadura de Qadhafi uma vez que é a representação de um regime que tolhe a possibilidade de uma organização popular na Líbia, bem como qualquer possibilidade de uma organização à esquerda. Resta-nos apoiar a mobilização popular contra Qadhafi e contra os interesses imperialistas, o que não parece ter força capaz de conduzir o atual processo de reconfiguração político-social da Líbia. Parodiando Drummond, temos o tempo e as ações pobres fundidas num mesmo impasse.







Saída? só se a classe trabalhadora se colocar a frente

Ainda que as manifestações iniciais possam ter apresentado um caráter “espontâneo” contra o regime ditatorial há muito desgastado, rapidamente a “guerra” na Líbia transformou-se em um campo de batalha dos interesses imperialistatendo, talvez, um papel destacado para a influência dos BRIC´s.



Dada a correlação de forças dos interesses imperialistas, a quantidade imensa de informações distorcidas, as especificidades próprias da Líbia e o fato de que não é mais possível (no estágio atual do capitalismo, ou pelo menos não é essa a tendência) consolidar democracias aos moldes “clássicos” (com liberdades civis e democráticas consolidadas, com parlamento forte e etc.) torna-se extremamente complexa a caracterização de quais contornos do regime democrático são possíveis para um país como a Líbia. No entanto, sabemos que a luta por direitos e liberdades democráticas, como o direito a livre associação, é de fundamental importância para a luta revolucionária.



Para fortalecimento da luta e por conquistas revolucionárias a unidade dos trabalhadores é essencial e determinante. Somente esta unidade poderá transformar as cidades libertadas do jugo ditatorial em espaços de controle da riqueza produzida e em espaços de organização das forças rebeladas e armadas a fim de construir um regime que garanta os direitos e as liberdades democráticas sem a interferência do Imperialismo e sem a liderança do regime Qadhafista.



Pelo fim da espoliação aplicada pelo imperialismo e pela burguesia ao povo líbio! Pelo fim do regime Qadhafista! Todo poder à classe trabalhadora líbia!






http://www.espacosocialista.org/node/275#titulo8, Jornal 42, abril de 2011.

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