quarta-feira, 29 de maio de 2013

Por cima da nuca dele

Ao sentar, ele já estava ali, à frente de minha atenção.
Coçou a cabeça como que se meus olhos pudessem tê-lo tocado.
Não a movimentava, nem de um lado, nem para outro.
Permanecia paradinho, com aquela sua nuca nua a me hipnotizar.
O caminho parecia ser longo, e o nosso transporte congestionado num trânsito intragável...

A minha paciência, por raras vezes me fazia companhia, mas naquela noite, caía-me como uma luva...
Ah, como eu desejava alisar aquele pedaço de pele, tão perto, acessível, tão alva, com algumas pintinhas sortidas.
Enquanto entretida com uma área masculina que jamais me causou tamanha comoção, devoção, me ajeitava na cadeira, e sem querer (querendo), aproximei-me do cheiro que dela exalava.
Por sentir tal presença atrás de si, a cabeça virou-se para a direita, e só deu para ver o nariz retilíneo, um perfil marcante e bem definido, em que a cor dos olhos estava em tom negro, como aquele céu camuflado acima de nós.


Poderia pousar as minhas horas ausentes do dia a dia corrido bem ali, na nuca daquele desconhecido.
Estava tentada a mordiscar o canto daquele pescoço, produzindo em mim uma invasão de sensações...
Comecei, então, a cantar baixinho uma canção antiga presente no inconsciente coletivo, foi aí, nesse exato instante que o rapaz esticou a cabeça para trás num gesto rápido e inusitado, o qual me desorientou, me calou.
Pensei: "Estava eu o incomodando?"


De mansinho, fui até o seu ouvido e sussurrei: "Desculpe".
De imediato, ele levantou-se, e sorrindo, continuou: "Moça, aqui o meu telefone, tenho que descer, tchau".
Surpresa fiquei, mas assim que o papel peguei, li a frase que inspirava toda a vontade que durante todo o percurso guardei: "Oi, senti seus olhos em mim, se quiser, podemos qualquer coisa fazer..., um beijo".


Passei do ponto...
Desci do ônibus, e como num flashback instantâneo, acordei com o homem dos meus sonhos.

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