O SORRISO DA CACHORRA
CAPÍTULO 2
A política e o luau
O fato de ser um dos melhores alunos da escola
e ser respeitado pelos colegas e professores o credenciava a fazer política.
Iniciou então uma discussão sobre a volta do GRÊMIO ESTUDANTIL, que durante o
período da ditadura tinha sido proibido. Disputou então a eleição contra uma
chapa do Partido Comunista, que tentava não só estar no movimento estudantil,
mas conduzi-lo de acordo com o interesse do partido e não Dos estudantes. Na
véspera da eleição, juntou-se a dois colegas para pichar as imediações da
escola. Foi um sucesso! No dia seguinte, estava tudo pichado, sem que a chapa
adversá
ria tivesse tempo de reagir. Disputa com o PC, que o acompanharia por
toda sua trajetória no movimento estudantil, a eleição foi uma barbada, sua
chapa teve 98% dos votos e, com esta eleição, ele se tornou o primeiro
presidente de Grêmio livre, depois da ditadura militar. Como presidente do
grêmio, tinha espaço para falar no hasteamento da bandeira às segundas-feiras,
provocando desafios à direção da escola, o que o tornou ainda mais respeitado;
no entanto, fazendo também alguns inimigos. |
Durante a semana
estudava e fazia política. E virava noites estudando com seus amigos. Aos sábados
caminhava uma légua até a casa do seu amigo Antônio para estudar, jogar sinuca
e tomar banho de piscina. À noite, saía pelos bares; não bebiam, pois não
tinham dinheiro, e também nunca conseguiam ficar com mulher nenhuma.
Sendo ele, Doutor e Antônio alunos estudiosos, passaram a
ser convidados para as festas, já que nas provas eles passavam “cola” para os
colegas que não eram muito de estudar, por pura “solidariedade”, divertimento
e, é claro, irritar as autoridades da escola, sendo o fato há muito notado
pelos professores, mas isso é outra história.
A semana se iniciou
com a expectativa de lua cheia para sexta-feira. Isso trazia a possibilidade de
luau na praia. Estava uma linda noite, e então marcaram no posto sete, onde
havia um grande calçadão de pedra. Logo após, num plano mais baixo, uma palhoça
na areia da praia. A lua, bela lua, deixava todo o mar prateado como os cabelos
de Iemanjá, o terral, o mar calmo, um campo de sonhos. Reuniram-se em torno da
fogueira bebiam vinho e Antônio divertia a todos com suas piadas e histórias
engraçadas. Com o passar do tempo e alguns copos de vinho, ele, André, como
novo presidente do Grêmio, se destacava com suas explanações sobre política, o
mar e paixões, atraindo a atenção de uma nova colega, Mira, uma bela menina de
olhos negros e pequenos, pele dourada e cabelos castanhos na altura dos ombros.
Estava de vestido de alcinhas, azul, com pequenas flores amarelas, tinha lindos
seios grandes e quase à mostra, e o corpo com um suave cheiro de flores de
laranjeira. Logo estavam a sós, falando como era deslumbrante seu cheiro, sua
pele e sua voz. O clima, a lua, o mar, tudo aquilo o deixou fascinado e
disposto a apaixonar-se por aquela linda morena. Percorreu todo seu rosto com o
leve toque de seus dedos, envolvendo finalmente seu pescoço com sua mão e
beijando-a calma e suavemente. Nessa época, as festas de seu grupo eram
divertidas, mas ingênuas. Conversavam mais que namoravam, não usavam drogas nem
mesmo fumavam, e sexo... ainda estava longe para eles, lamentavelmente, é
claro!

Para sua surpresa, o fato tinha despertado o interesse de
outra pessoa que não estava na festa, por estar com seu filhinho. Essa moça, a
menina-mulher de olhos verdes, passou a sondar com todos o que tinha acontecido
naquele luau. Até que, finalmente, ele foi procurado por uma amiga em comum,
que perguntou o que realmente tinha acontecido. Ele falou o que ocorrera e que
tinha terminado por ali mesmo. A partir de então, ela, muito discretamente,
passou a observá-lo. Assim terminou o primeiro semestre daquele ano, porém, sem
que ele percebesse o interesse dela.
CONTINUA...
Daniel Barros, 44, escritor
e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso
da cachorra, Thesaurus, 2011, e Enterro sem defunto, em processo de
edição.
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