segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Capítulo 8 - O sorriso da cachorra



A Feirinha da Pajuçara
Pajuçara Maceió-Al Foto: Daniel Barros



Era domingo e seu irmão estava de folga da sonda de perfuração de petróleo. Estava muito cansado e então resolveu não ir à praia. Assim ficaram conversando, bebendo cerveja e comendo sururu com farinha e pimenta. Fazia um calor enorme, mas as cervejas os refrescavam.
Nos finais de semana, André não encontrava Patrícia, pois ela tinha que ficar com seu bebê, o que era perfeitamente compreensível. Aquele domingo precedia o primeiro dia de aula, e ele terminara no sábado a revisão dos livros de matemática do primeiro grau, como havia programado, e estava ansioso por iniciar o terceiro ano científico. No final da tarde, seu irmão o convidou para irem juntos à feirinha de artesanato, que na época só funcionava aos domingos. Era um ponto de encontro da época. A feirinha era realizada em duas quadras de esporte; com barracas dos dois lados, e uma fileira central. Eram barracas pequenas, aproximadamente de dois metros por dois e meio, e tinha um tabuleiro onde eram colocadas as mercadorias, que eram cobertas por uma lona azul. Muitas pessoas passavam por lá, na maioria, jovens paquerando. De um lado ficava a avenida e do outro a praia, que ainda tinha alguns banhistas.


Enseada de Pajuçara. Foto: Daniel Barros
Assim que chegou, André a viu. Desta vez não tivera tempo de observá-la, pois seu irmão fora logo lhe dizendo: “Não é a Patrícia e o marido?” Nesse momento entrara em transe; não conseguira pensar em nada. Seu amigo Antônio passara em sua frente, a menos de um metro, mas ele não conseguira cumprimentá-lo: o tinha visto, mas não conseguira cumprimentá-lo, estava atordoado, e sua vista escurecera. Seu irmão colocou o braço em seu ombro e beijou-lhe a cabeça, pedindo-lhe calma. Ele voltou do transe e pediu ao seu irmão para confirmar o que acabara de ver. Seu irmão sorriu e o levou. Ela estava em frente a ele de mãos dadas com seu “ex-parceiro”, mas imediatamente abaixou a cabeça e puxou o “ex” para a barraca mais próxima, ficando de costas para André. Voltaram, ele e seu irmão, para casa. Não chorou, apenas calou-se. Seu irmão já o advertira que aquilo estava acontecendo, e ele não acreditara, por isso ficara calado. Estava envergonhado de sua ingenuidade. Afirmou categoricamente que acabaria o namoro! Seu irmão em tom de tranquilidade lhe dissera: “calma!” Você pode ficar só se divertindo, ela é linda! E você é novo, e é melhor do que ficar transado com qualquer uma, leve na brincadeira. Ele concordara. Seu irmão fora dormir; estava muito cansado do trabalho exaustivo, e acordara cedo. Já era noite quando ele fora a praia de Pajuçara, que estava deserta! “Que linda praia!”, pensou André: – na verdade uma enseada. Os coqueirais a margeavam; várias jangadas, usadas no passado para pesca, hoje eram usadas por turistas para visitarem as piscina naturais, que ficam dois quilômetros mar adentro. No mar vários barcos de pesca ficam ancorados, que
 só são levados à praia quando precisam de reparos. Uma longa faixa de areia e uma calmaria quase que permanente. Ele chegara e ficara sentado nas jangadas. A maré estava baixa. Ele chorou e, pensando em seu pai, prometeu honrar seu nome e que não se deixaria vencer pela dor que sentia; escreveu seu nome e sobrenome na areia e jurou não decepcioná-lo.

*Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, em processo de edição, Editora LER e Coletânea Contos Eróticos, editora APED.

Nenhum comentário:

Postar um comentário