Capítulos 14 e 15 - O sorriso da cachorra
London, London
Cecília estava de minissaia branca, com suas lindas
pernas torneadas á mostra, e blusa amarela sem mangas, deixando ainda mais
lindo seus seios. Patrícia estava de calças jeans e blusa de renda branca.
Beberam cerveja, pois estava muito quente, e comeram um peixe com alcaparras. A
conversa girou em torno de política, música, profissões, entre outros assuntos.
Era uma oportunidade rara poderem sair juntos, mesmo apenas como amigos.
Olhavam-se o tempo todo, e André não soube como Cecília não notara. Em certo
momento, ele pôde tocá-la: afagou suavemente sua mão quando brincavam sobre as
linhas das mãos e a relação delas com a longevidade. Impressionante como um
simples toque era tão excitante!
A certa altura, como havia combinado antes, André avisou
que ia pegar um livro no carro. Ele naturalmente pediu para que Patrícia o
acompanhasse, ela aceitou de pronto. O carro estava em um local pouco visível.
Quando saíram para o estacionamento soprava uma leve brisa, e o cheiro do mar
era prazeroso e muito agradável. Chegando ao carro, André tocou o ombro dela,
virando-a para si e abraçando-a deliciosamente. Beijava seu rosto, macio e
cheiroso, acariciando com uma mão as costas dela, e com a outra sua nuca, e
finalmente beijando seus lábios carnudos. Que boca deliciosa! Ele percorreu por
sobre a blusa seus seios, que estavam rígidos. Ela acarinhava os longos cabelos
dele e seus peitos. Patrícia adorava apalpá-los fortemente. Estavam totalmente
excitados, quando ela pediu para voltarem para a mesa, para que sua irmã não
desconfiasse de nada. Voltaram e sentaram-se discretamente. Depois de um breve
silêncio, Cecília perguntou pelo livro que haviam ido buscar. André e Patrícia
olharam-se: haviam esquecido do livro. Ele respondera que não o havia
encontrado. Seu amigo, no entanto, deu um pequeno riso e iniciou rapidamente
uma nova conversa, perguntando algo a Cecília. Na volta para o carro, Cecília
vira o livro sobre o painel. Antes de pegá-lo, olhou para eles, mas não falou
nada. Apenas sorriu silenciosamente.
O Pastel Chinês
André e Patrícia não tiveram as duas últimas aulas.
Aproveitaram então para fazer amor na casa dele. Tinham de duas a três horas
livres, antes do cursinho que ela fazia, e que ele fizera por um mês,
deixando-o já que não pudera pagar. Depois que fizeram amor jantaram uma deliciosa
sopa que sua babá “Tetê” preparara. Comeram pão e tomaram café, e foram juntos
para a aula. No intervalo foram até o pipoqueiro que ficava em frente ao cinema
São Luiz. Compraram um saco de pipocas e as comiam juntos. O “doutor” que os
acompanhava começou então a desconfiar que algo mais estivesse acontecendo.
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O “doutor” voltara antes para a aula, pois precisava
falar com um professor. Eram 21h, mais ou menos, e o comércio onde se
localizava o cinema estava deserto. Deixaram que todos voltassem primeiro, para
que pudessem ficar a sós. Ele a puxou para baixo de uma marquise escura de uma
loja e a beijou fervorosamente. Roubar beijos inesperados era esplêndido!
Beijaram-se em pleno centro da cidade de Maceió. As ruas estavam desertas, mas
não importava! Estavam se beijando e se arriscando. Ela ficou surpresa com a
ousadia dele, mas consentia. Assim, voltaram para a aula muito contentes.
Cecília também fazia
ali o mesmo curso. Havia reprovado no vestibular no ano anterior e se preparava
para prestá-lo novamente. Havia terminado o namoro com Carlos e tinha voltado
para o seu antigo namorado, um pequeno burguês sustentado pelo pai, um rico
comerciante local, que vivia de licitações fraudulentas com o governo do
Estado. O certo é que o burguês a esperava todos os dias, depois do cursinho,
para saber se Cecília queria carona.
Nesse dia, Cecília e esse seu namorado burguês haviam
combinado de ir comer pastel chinês em uma pastelaria que ficava na Pajuçara.
Patrícia estava muito alegre naquele dia, e o chamara para pegar uma carona com
sua irmã. Ele dissera que iria de ônibus, mas ela insistira. A pastelaria
ficava bem próxima da casa dele. Cecília estava do outro lado da rua com o
namorado, esperando por ela. Patrícia foi então pedir carona, mas voltou logo,
dizendo que não seria possível, pois talvez eles não fossem mais para lá. André
percebeu que ela estava constrangida, e a tranquilizou pedindo para que ela
dissesse a verdade. Então ela disse que falou com seu cunhado e que ele dissera
que não daria carona para “comunista”. Ele não ficou chateado, não podia
esperar algo diferente de um sujeito daqueles. Nunca esquecera aquela
deselegância do burguês. Voltando para casa, pôde ver o carro dele estacionado
em frente à pastelaria.
*Daniel
Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos
romances O sorriso da cachorra,
Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED,
2013.
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