domingo, 29 de setembro de 2013

Capítulos 14 e 15 - O sorriso da cachorra

London, London
Capa: Thiago Sarandy,
foto: Daniel Barros
Era um galpão com duas quedas d’água e um alto pé direito. Na entrada, havia um grande salão, com várias mesas. A cozinha ficava ao fundo, atrás de um balcão enorme de granito negro. Assim era o London, London. André havia sido convidado por seu professor de Física para beber uma cervejinha. Seu professor estava namorando Cecília, irmã de Patrícia, e esta era uma oportunidade para que eles pudessem sair juntos, sem que ninguém percebesse, já que o convite partira de Carlos – o professor –, e como eles eram amigos, Cecília não achou nada estranho.
Cecília estava de minissaia branca, com suas lindas pernas torneadas á mostra, e blusa amarela sem mangas, deixando ainda mais lindo seus seios. Patrícia estava de calças jeans e blusa de renda branca. Beberam cerveja, pois estava muito quente, e comeram um peixe com alcaparras. A conversa girou em torno de política, música, profissões, entre outros assuntos. Era uma oportunidade rara poderem sair juntos, mesmo apenas como amigos. Olhavam-se o tempo todo, e André não soube como Cecília não notara. Em certo momento, ele pôde tocá-la: afagou suavemente sua mão quando brincavam sobre as linhas das mãos e a relação delas com a longevidade. Impressionante como um simples toque era tão excitante!
A certa altura, como havia combinado antes, André avisou que ia pegar um livro no carro. Ele naturalmente pediu para que Patrícia o acompanhasse, ela aceitou de pronto. O carro estava em um local pouco visível. Quando saíram para o estacionamento soprava uma leve brisa, e o cheiro do mar era prazeroso e muito agradável. Chegando ao carro, André tocou o ombro dela, virando-a para si e abraçando-a deliciosamente. Beijava seu rosto, macio e cheiroso, acariciando com uma mão as costas dela, e com a outra sua nuca, e finalmente beijando seus lábios carnudos. Que boca deliciosa! Ele percorreu por sobre a blusa seus seios, que estavam rígidos. Ela acarinhava os longos cabelos dele e seus peitos. Patrícia adorava apalpá-los fortemente. Estavam totalmente excitados, quando ela pediu para voltarem para a mesa, para que sua irmã não desconfiasse de nada. Voltaram e sentaram-se discretamente. Depois de um breve silêncio, Cecília perguntou pelo livro que haviam ido buscar. André e Patrícia olharam-se: haviam esquecido do livro. Ele respondera que não o havia encontrado. Seu amigo, no entanto, deu um pequeno riso e iniciou rapidamente uma nova conversa, perguntando algo a Cecília. Na volta para o carro, Cecília vira o livro sobre o painel. Antes de pegá-lo, olhou para eles, mas não falou nada. Apenas sorriu silenciosamente.

O Pastel Chinês
André e Patrícia não tiveram as duas últimas aulas. Aproveitaram então para fazer amor na casa dele. Tinham de duas a três horas livres, antes do cursinho que ela fazia, e que ele fizera por um mês, deixando-o já que não pudera pagar. Depois que fizeram amor jantaram uma deliciosa sopa que sua babá “Tetê” preparara. Comeram pão e tomaram café, e foram juntos para a aula. No intervalo foram até o pipoqueiro que ficava em frente ao cinema São Luiz. Compraram um saco de pipocas e as comiam juntos. O “doutor” que os acompanhava começou então a desconfiar que algo mais estivesse acontecendo.
O “doutor” voltara antes para a aula, pois precisava falar com um professor. Eram 21h, mais ou menos, e o comércio onde se localizava o cinema estava deserto. Deixaram que todos voltassem primeiro, para que pudessem ficar a sós. Ele a puxou para baixo de uma marquise escura de uma loja e a beijou fervorosamente. Roubar beijos inesperados era esplêndido! Beijaram-se em pleno centro da cidade de Maceió. As ruas estavam desertas, mas não importava! Estavam se beijando e se arriscando. Ela ficou surpresa com a ousadia dele, mas consentia. Assim, voltaram para a aula muito contentes.
Cecília também fazia ali o mesmo curso. Havia reprovado no vestibular no ano anterior e se preparava para prestá-lo novamente. Havia terminado o namoro com Carlos e tinha voltado para o seu antigo namorado, um pequeno burguês sustentado pelo pai, um rico comerciante local, que vivia de licitações fraudulentas com o governo do Estado. O certo é que o burguês a esperava todos os dias, depois do cursinho, para saber se Cecília queria carona.
Nesse dia, Cecília e esse seu namorado burguês haviam combinado de ir comer pastel chinês em uma pastelaria que ficava na Pajuçara. Patrícia estava muito alegre naquele dia, e o chamara para pegar uma carona com sua irmã. Ele dissera que iria de ônibus, mas ela insistira. A pastelaria ficava bem próxima da casa dele. Cecília estava do outro lado da rua com o namorado, esperando por ela. Patrícia foi então pedir carona, mas voltou logo, dizendo que não seria possível, pois talvez eles não fossem mais para lá. André percebeu que ela estava constrangida, e a tranquilizou pedindo para que ela dissesse a verdade. Então ela disse que falou com seu cunhado e que ele dissera que não daria carona para “comunista”. Ele não ficou chateado, não podia esperar algo diferente de um sujeito daqueles. Nunca esquecera aquela deselegância do burguês. Voltando para casa, pôde ver o carro dele estacionado em frente à pastelaria.




*Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED, 2013.

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