terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O sorriso da cachorra - capítulos 32 & 33

Um Coração, Duas Paixões
André estava sentado embaixo dos eucaliptos, ao lado o bloco de Agronomia, preparava a pauta da reunião do C.A. E viu quando Glória vinha em direção a ele: a cumprimentou com um aceno de mão e voltou à pauta, quando, de repente, Glória parou em sua frente.
— Como está a luta? – perguntou ela.
— Bem! Estava com saudades. Esperei você me ligar.
— Eu também.
— Mas já faz um mês que nos encontramos no laboratório, e você não ligou.
— Estava pensando e acho melhor não irmos em frente com essa loucura.
— A que horas te pego amanhã e onde? – André arriscou.
— Não! Não disse que iria...
— Mas não precisa. Já disse no laboratório... Então amanhã, às 15h. Te pego em casa... – falou enquanto continuava escrevendo.
— Não, lá não, estarei te esperando em frente ao Teatro Deodoro, às 14h45.
— Estarei lá – levantou a cabeça e sorriu. – Estou ansioso por te beijar novamente.
Na manhã seguinte não fora à aula, pedira o carro de sua mãe emprestado e se preparou para o grande encontro. Teria que ser muito especial, não podia pensar nele, apenas na satisfação dela. Faria da forma mais perfeita possível, se é que se pode planejar algo assim.
Como combinado, Glória estava lá. André nunca a tinha visto de vestido: ela estava linda! Usava um vestido marrom de alças, que lhe acentuava o bumbum e deixava seus seios ainda mais lindos. Quando ela o viu, atravessou a rua saltitando, como se pisando em pedras, na ponta dos pés, e entrou no carro. Ela o beijou no rosto, sorriu e falou.
— Achou que estou ficando maluca.
Ele falou que tinha cerveja e Martini no apartamento e perguntou se ela gostaria que comprasse algo mais. Ela disse que não, pois não bebia.
Chegando ao apartamento, Glória colocou a bolsa sobre as almofadas do tapete, e André então se dirigiu a janela da sala e a chamou. Ela foi, mas achou não ser uma boa ideia. Alguém poderia reconhecê-la. Ele então respondeu para ela não se preocupar, que só queria mostrar-lhe algumas coisas que lembravam sua infância, como o campinho de areia onde joga bola, e as casas de alguns colegas; bem como o bloco de apartamentos onde Djavan morou, que era o mesmo em que seu avô morara. Ela pediu-lhe água, e ele voltou com a um copo de água para ela e uma cerveja para ele. Já longe da janela, estava sentada no tapete, olhando uma foto que estava na parede.
— São seus pais?
— Sim. Minha mãe era 16 anos mais nova que meu pai.
— Ele era muito bonito! E ela também.
— Eles se amavam muito.
— Eu noto que, toda vez que você fala dele, seus olhos brilham. Você o admira muito, não é?
— Claro! Foi o homem mais íntegro e honesto do mundo.
— Eu também te admiro, por essa ligação de respeito e admiração que você tem por sua família.
— Mas é muito fácil, tendo a família que tenho – disse rindo.
Nesse momento, ela colocou a mão na dele. Beijaram-se longamente, enquanto se acariciavam e se despiam com ferocidade. André baixou-lhe o vestido e beijou-lhe os seios. Glória tirara a blusa dele e mordera seus mamilos e seu abdome. Ela estava apenas de calcinha preta e de sapatos de salto alto. Já estavam em pé, encostados à parede, abraçando-se e beijando-se loucamente, quando ele a levou para o quarto. Deitaram-se na cama e continuaram os beijos e carícias por longo tempo. Ele tirou então a calcinha dela e passou a beijá-la intimamente, e assim permanecendo até ela atingir o orgasmo. Quando já se reviravam sobre a cama, ele deitou-se sobre ela, e ela colocou as pernas sobre os ombros dele e murmurou.
— Se soubesse que seria tão bom assim, teria vindo antes... – e gemia como se estivesse chorando.
E mais uma vez ela atingiu la petite mort. Permaneceram naquela euforia por um longo tempo, alternando posições, carinhos e palavras de desejos e elogios.
Já era noite quando ela adormecera. Uma vela iluminava seu corpo, e a visão era deslumbrante: curvas perfeitas e pele macia. Glória estava de bruços, e André acariciava aquele corpo, percorrendo as costas, o bumbum empinado e as pernas com pelinhos dourados: era fascinante como eram macias e ao mesmo tempo rígidas! Era o corpo de quem há muito tempo praticava dança.
Ela acordou, colocou a calcinha e os sapatos de salto altos e foi sentar-se em frente à penteadeira, que tinha um grande espelho oval. Parecia um sonho aquela mulher desfilando no quarto, sentando-se para pentear seus longos cabelos negros. Ele não hesitou, levantou-se e passou a penteá-la, e desejou que aquele momento durasse anos e anos até se tornar infinito. Ela levantou-se, pegou-lhe pela mão e o levou ao banheiro e lá se amaram no chuveiro.
No dia seguinte, tinham provas. Mas não conseguiram se encontrar antes, porque ela havia chegado atrasada. Quando chegou, todos já estavam na sala. André estava sentado no final da sala. Ela se sentou em uma das primeiras filas, e olhou para trás: André fez um sinal, usando a linguagem de surdos-mudos.
— Você está linda! E estou com saudades.
E ela respondeu.
— Obrigada, também estou.
A partir de então passaram a se encontrar impreterivelmente todas as quartas-feiras. Cada encontro era mais prazeroso que o outro. No quinto, André já estava confuso, pensando sobre o que poderia acontecer entre os dois. Então Glória, deitada com a cabeça sobre o peito dele, depois de terem feito amor, disse-lhe.
— Dia de sexta-feira eu não tenho aulas importantes, e já olhei no seu horário, você também não tem. Poderíamos nos ver nas quartas e sextas?
Ele respondeu que sim; seria ótimo.
Na sexta-feira seguinte, ele passou na sala de aula dela e sinalizou que estaria esperando. Ficou então esperando nos eucaliptos. Ela saiu da aula e se dirigiu para o bloco de química, e ele a seguiu até o laboratório.
— Oi, querida!
— Oi! Tenho que fazer uns experimentos.
— Tudo bem, eu te espero.
— Não. Vou demorar.
— Lembra o que combinamos?
— Não dá mais! Vou me casar.
— Como? Você já ia se casar!
— O meu casamento é muito importante e não quero perdê-lo.
— Nunca questionei seu casamento! Você quem propôs nos vermos mais.
— Não, não dá! – disse ela com firmeza.
Quando André saiu do laboratório, Glória correu até a porta, mas não teve coragem de chamá-lo. Trancou-se e chorou. Estava apaixonada por ele, mas sabia que ele nunca deixaria Patrícia.
Foi a última vez que eles se encontraram. André nunca conseguiu entender o que a levou aquela atitude.


Início de Carreira
Após a formatura, vieram os piores meses de sua vida, o desemprego. Oito longos meses de busca, e a única resposta era: Não! Você não tem experiência, apesar de ter um bom currículo. Finalmente conseguira um estágio em um laboratório de análises de alimento. Estágio que lhe rendeu a primeira oportunidade de emprego, pois foi contratado logo depois.
Era início do inverno e havia chovido toda a noite, mas amanhecera apenas nublado. Ao chegar ao trabalho, seu diretor o chamou e o informou que seria contratado, e que ele precisava se apresentar ainda naquele dia vários documentos na sede da Secretária de Saúde.
Após reunir os documentos, André apresentou-se no RH (Recursos Humanos). Foi recebido por uma jovem morena, que não apresentava ter mais de 15 anos. Era alta, seios fartos, quadris largos, cintura fina, pernas grossas, e tinha cabelos negros, pouco abaixo dos ombros. Os olhos também negros, nem grandes, nem pequenos. Apesar do rosto de menina, tinha um corpo de mulher. A blusa justa destacava seus seios e sua cintura perfeita; a calça jeans que vestia destacava suas belas ancas e pernas. Muito educada, informou a André que o chefe não estava, mas que deveria chegar logo. Ofereceu-lhe um café e o convidou para aguardar. Ele aceita e senta-se. Ela continua suas atividades. Em certo momento, ela levantou-se para guardar uma pasta na estante, esticando-se nas pontas dos pés para alcançar a parte superior. Que linda visão! Na ponta dos pés, com os braços erguidos sobre a cabeça e aquele belo bumbum, o fez pensar na maravilha que seria tê-la em sua cama, naquela manhã chuvosa de inverno.
O tempo passara e o chefe não chegara, e já se aproximava à hora do almoço. André precisava ir.
— Senhorita! Não posso mais esperar, volto à tarde.
— Claro!


— A que hora é provável encontrá-lo?
— Às 15h, não!... Não seria melhor você deixar o número de seu telefone? Posso te ligar, quando o chefe estiver aqui.
— Seria muita gentileza sua  – momento em que ele anotou em um papel seu telefone e lhe entregou. – Qual o seu nome, senhorita?
— Mariana!
Quando voltou, à tarde, para entregar os documentos, ela havia acabado de sair e ele não a encontrou.
Os meses passaram e André se tornou chefe da divisão na qual trabalhava. Certa manhã, ele estava deitado com Patrícia, quando o telefone tocou, era ela: Mariana! Ele ficou surpreso e um tanto embaraçado, pois o telefone ficava em frente ao quarto. Ela falou que estava ligando para avisá-lo que na semana seguinte haveria uma inspeção surpresa no laboratório e que ela havia ouvido por acaso essa informação. Ele a agradeceu, mas não poderia falar mais nada, apesar de saber que esse não era o verdadeiro motivo da ligação. Patrícia havia levantado e estava ao seu lado. Aguardou então a inspeção, para então retornar a ligação e agradecer, aproveitando a oportunidade para convidá-la para uma “cervejinha”. Ela aceitou prontamente.
Marcaram, então, para o dia seguinte, às 18 horas. André a pegaria em frente à secretaria. Ele a levou ao restaurante “BEM”, que era discreto e ficava na Praia de Cruz das Almas. Tinha uma sacada que dava para o mar, mesas com sobrinhas brancas espalhadas em uma área espaçosa ao ar livre, onde eram servidas bebidas e petiscos e uma área coberta com grandes portas de vidros, destinada às refeições. O mar era de ondas fortes e alguns surfistas ainda aproveitavam os últimos raios de sol.
Ela falara muito sobre si, que tinha 16 anos e que gostaria de ser médica, mais precisamente oncologista, e que seu namorado acabara de terminar medicina, mas não exercia a profissão, pois trabalhava nos negócios da família. Comeram peixe e beberam cerveja. Quando a noite chegou, André a levou a um motel próximo ao restaurante. Ela estava um pouco nervosa e surpresa, mas não dissera não. Ele, preocupado, perguntou:
— Está com medo?
— Sim!
— Por quê? Não vai acontecer nada que você não queira!
— É que é a primeira vez!
— Não vejo problema em ficarmos juntos no primeiro encontro!
— Não! Você não entendeu, é minha primeira vez.

Ele parou, pensou um pouco.
— Acredito que você está passando por um momento difícil com seu namorado, mas que pode ser resolvido numa conversa.
— Não! Não é este o problema, mesmo porque não pretendo continuar com ele.
— Apesar de não lhe conhecer direito, achei você uma pessoa especial e não acho certo que fiquemos hoje, vamos continuar saindo e nos conhecermos melhor.
— Talvez eu esteja errada, mas você me transmite segurança, por isso aceitei vir aqui.
— Você mal me conheceu, foi um risco!
— É! Mas parece que estava certa. Você é gentil, honesto... Meu Deus, já são 21h, tenho quer ir.
— Claro! Vou te levar em casa.

Podia parecer estranho, mas ele não gostou da ideia de ser o primeiro homem daquela menina que mal conhecia. E se sentiu aliviado por não ter insistido, apesar de ter ficado louco quando a viu só de calcinha, com aquele corpo de mulher e jeito de menina.

Acordara atrasado, pois havia chegado tarde na noite anterior. Então pediu o carro de sua mãe para não se atrasar na ida para o trabalho. Quando passava na Praça Lions percebeu na parada de ônibus uma jovem que o olhou como se o conhecesse. André parou e perguntou se ela queria uma carona. A moça aceitou e entrou no carro, conversaram e ela encostou a perna na marcha do carro. Ele só poderia passar a marcha tocando-a. Pensou se seria esta mesmo a sua intenção, mas resolveu arriscar. E foi o que aconteceu: quando parou o carro para que ela descesse, eles se beijaram. André pensou em ir direto para um motel, mas tinha uma reunião e já estava atrasado. Combinaram, então, para a semana seguinte, depois que ele saísse do trabalho.
Na semana seguinte, André a encontrou próxima da parada de ônibus. Falaram pouco e foram direto para o motel. Era uma menina jovem, de seus 18 ou 19 anos, no máximo. Vestida, aparentava ser magrinha, mas sem roupa era surpreendente. Fizeram amor como se conhecessem há muito tempo. E quando se preparava para ir embora, ela virou de bruços, levantou levemente o bumbum, olhou para André e sorriu. Ele voltou para a cama e, diante daquela bela visão, não pôde resistir àquele bumbum: a penetrou vigorosamente, enquanto ela gemia e gritava de excitação. Não parecia ter a idade que tinha; transava como uma mulher experiente.
Comeram algo e ela pediu para que a deixasse próximo à casa do namorado dela. Foi a última vez a viu, nem mesmo ficou sabendo seu nome.
Semanas depois do encontro com Mariana, André estava em sua sala de trabalho, quando sua secretária entrou e disse:
— Dr. André, tem uma pessoa da secretaria que tá querendo falar com o senhor. Posso mandar entrar?
Era Mariana. Estava linda! E ela aparentava estar muito bem. Conversaram um pouco e ela disse:
— Hoje podemos passar a tarde, juntos?
André desmarcou os compromissos e saíram juntos.
Chegando ao motel, ela pediu licença e entrou no banheiro. Ele abriu um vinho, colocou uma música e a esperou. Ela saiu num lindo espartilho branco, estava perfeita, a lingerie combinando com sua pele morena. Ele a abraçou e a beijou, e dançaram ao tempo que tiravam lentamente as roupas. André fora muito paciente e gentil com ela. Ele a deitou e percorreu seu corpo, com beijos e carícias, apalpando seus seios fartos e sua pele macia. Ele a olhava, explorando cada centímetro do seu corpo, enquanto ela gemia. Num momento suspirou e o puxou para si, quando ele beijava seu sexo:
— Não aguento mais, vem, vem...
E ele sentiu um gemido de dor, mas ela o puxou de novo; ela queria que ele continuasse, parecia que o prazer era maior que a dor e continuaram.
 Pediram uma salada com camarão e beberam mais um vinho, tentaram fazer amor novamente, mas ela não conseguira pela dor. Ela falou que não sabe por que, mas que tinha que ser com ele a primeira vez e que estava certo fora maravilhoso.
Ela sabia que André tinha namorada, mas o fato não a incomodava. Ficaram anos como amantes e amigos, até ela se casar com o tal médico. Tempos depois, ela fora fazer residência em outro Estado e André a encontrou em um jantar do CRM (Conselho Regional de Medicina). Ela estava separada e se preparava para ir para França, fazer mestrado em oncologia.



*Daniel Barros, 45, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED, 2013. Membro da Associação Nacional dos Escritores –ANE-. 

Um comentário:

  1. Desculpem-me a ausência na última semana, mas estive envolvido na 31.ª feira do livro de Brasília.

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