Quando todo mundo acha que vai mudar alguma coisa porque viramos a folha do calendário e outro número apareceu na ridícula contagem cristã.
Ele veio me dar conselhos motivacionais:
"Só não vai ficar deprimido, né?
Porque pra ficar deprimido não precisa nada.
Basta abrir os olhos pela manhã."
Em
um universo longe do normalismo tedioso e banal
Mais um brinde
Gargalhadas ao ar
Só assim nos sentimos bem
Ou pelo menos melhor que sob o bombardeio
diário da rotina assassina
Acrescentando cada vez mais insanidade
Para amortecer este grito que insiste em sair
por nossa garganta a fora
Explodindo a partir dos pulmões, intestinos e
úlceras
Chagas provenientes dos espinhos do labirinto
infernal
Sem bons modos ou bom-mocismo
Sem estar padronizado ou domesticado por
alguma teoria higienizada
Tão limpa quanto a consciência do mentiroso
que vende a salvação para os desesperados de plantão
Tão limpa quanto as criaturas que vivem nos
podres esgotos que exalam o cheiro nada fecundo de nosso interior
O cheiro do nosso desespero milenar
Devotos da mentira que sustenta este sistema
viciado
Tentam provar que suas teorias mofadas tem
algo a explicar
A necrose chamada vida
Não quero ser como os que buscam se enganar só
para ter algo em que acreditar
Só para poder continuar se sentindo consciente,
sóbrio ou mais inteligente que os demais
Acreditando saber das coisas sem nunca ter
beijado a boca da morte e sentido seu hálito podre
Acreditando ter explicação para todos os fatos
sem nunca ter sido embalado pelos braços da loucura
Não aceito qualquer mentira embrulhada como
verdade só para encontrar algum sentido para o que não tem
Eu não quero uma revolução careta, sóbria e
chata que só serve a velhos amargurados querendo impor seu novo status quo
A continuação da mesma coisa com um leve
verniz diferente
Variações do mesmo tom
O antigo fazendo vezes de novidade
Eu quero a revolução das pedras rolando como
dados em um jogo de azar
Balançar e rolar
Dançar como atos de contorcionismo
esquizofrênico
Lançar o corpo quase morto em passos
epiléticos no quarto escuro
Dançando consigo mesmo
Sozinho sem pudor
O terrorismo poético nu e cru como deve ser
Bem comportado é algo que nos gera apenas
azedume
Não me venha com suas regras
Leis sujas e torpes
Meu caminho sigo sem limites ou fronteiras
O exterminador de verdades e besteiras
Apocalixo
Corpos petrificados
e mentes inertes
ninguém esboça reação
Abuso da autoridade
que por si só é um abuso
tudo é mera contradição
Os arquitetos da guerra
e os senhores da ganância
construtores da desgraça
Querem que você sirva
sem saber pra onde ir
sem compreender ou intervir
Vislumbre sua morte
não acredite na boa sorte
o punho e seus cortes
A pele a derreter
os nervos a contorcer
não consegue entender
O cérebro a derreter
a boca a gemer
e o futuro é mentira
A foto dos nossos tempos
um registro pesaroso
lamentável
nestes olhos moribundos
encravados nestas órbitas
lamacentas
de tantos prantos
e a profundidade dos
soluços
de corpos vazios se
balançando
em decomposição
e mentes alienadas a guiar
cegos surdos e mudos
arrastando suas pernas
tomadas de doenças
purulentas
feridas infectas
e veias saltadas
O nada suspenso no ar
somente o vazio
alimentando a depressão
abjeta
da rotina pestilenta
de uma vida precária
triste
sem conseguir ficar de pé
sem motivos para lutar
continuar
no terrível cárcere
existencial
Dance Baile
com a santa piromaníaca no
altar
dizendo o que devemos
fazer
Tanta submissão
Tanta obediência
Hipocrisia e mentira
Tudo cada vez mais limpinho
e higiênico
Tanta farsa otimista
Camuflagens ordinária
Tido mundo é bom
menos eu
pelo menos isso é bom
Por que nos perseguem e humilham
oprimem e acorrentam
matam e deturpam
?
Será apenas por sermos diferentes
representarmos perigo a sua farsa
não acreditando em suas mentiras
?
Tantas falácias e ilusões
criam cemitérios povoados pela tétrica certeza falida
neste triste calvário chamado vida
.
Mas mesmo assim seguimos em frente
pois não queremos as possibilidades que nos oferecem
como se fossem fórmulas mágicas decadentes
Por Fabio da Silva Barbosa
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