sábado, 30 de dezembro de 2023

Registros cáusticos e maus agouros para o ano que virá

 Quando todo mundo acha que vai mudar alguma coisa porque viramos a folha do calendário e outro número apareceu na ridícula contagem cristã.

Ele veio me dar conselhos motivacionais:

"Só não vai ficar deprimido, né?

Porque pra ficar deprimido não precisa nada.

Basta abrir os olhos pela manhã."


Em um universo longe do normalismo tedioso e banal

 

Mais um brinde

Gargalhadas ao ar

Só assim nos sentimos bem

Ou pelo menos melhor que sob o bombardeio diário da rotina assassina

Acrescentando cada vez mais insanidade

Para amortecer este grito que insiste em sair por nossa garganta a fora

Explodindo a partir dos pulmões, intestinos e úlceras

Chagas provenientes dos espinhos do labirinto infernal

Sem bons modos ou bom-mocismo

Sem estar padronizado ou domesticado por alguma teoria higienizada

Tão limpa quanto a consciência do mentiroso que vende a salvação para os desesperados de plantão

Tão limpa quanto as criaturas que vivem nos podres esgotos que exalam o cheiro nada fecundo de nosso interior

O cheiro do nosso desespero milenar

Devotos da mentira que sustenta este sistema viciado

Tentam provar que suas teorias mofadas tem algo a explicar

A necrose chamada vida

Não quero ser como os que buscam se enganar só para ter algo em que acreditar

Só para poder continuar se sentindo consciente, sóbrio ou mais inteligente que os demais

Acreditando saber das coisas sem nunca ter beijado a boca da morte e sentido seu hálito podre

Acreditando ter explicação para todos os fatos sem nunca ter sido embalado pelos braços da loucura

Não aceito qualquer mentira embrulhada como verdade só para encontrar algum sentido para o que não tem

Eu não quero uma revolução careta, sóbria e chata que só serve a velhos amargurados querendo impor seu novo status quo

A continuação da mesma coisa com um leve verniz diferente

Variações do mesmo tom

O antigo fazendo vezes de novidade

Eu quero a revolução das pedras rolando como dados em um jogo de azar

Balançar e rolar

Dançar como atos de contorcionismo esquizofrênico

Lançar o corpo quase morto em passos epiléticos no quarto escuro

Dançando consigo mesmo

Sozinho sem pudor

O terrorismo poético nu e cru como deve ser

Bem comportado é algo que nos gera apenas azedume

Não me venha com suas regras

Leis sujas e torpes

Meu caminho sigo sem limites ou fronteiras

O exterminador de verdades e besteiras



Apocalixo

 

Corpos petrificados

e mentes inertes

ninguém esboça reação

 

Abuso da autoridade

que por si só é um abuso

tudo é mera contradição

 

Os arquitetos da guerra

e os senhores da ganância

construtores da desgraça

 

Querem que você sirva

sem saber pra onde ir

sem compreender ou intervir

 

Vislumbre sua morte

não acredite na boa sorte

o punho e seus cortes

 

A pele a derreter

os nervos a contorcer

não consegue entender

 

O cérebro a derreter

a boca a gemer

e o futuro é mentira


 

 Filme fotográfico exposto ao Sol

 

A foto dos nossos tempos

um registro pesaroso

lamentável

nestes olhos moribundos

encravados nestas órbitas lamacentas

de tantos prantos

e a profundidade dos soluços

de corpos vazios se balançando

em decomposição

e mentes alienadas a guiar

cegos surdos e mudos

arrastando suas pernas

tomadas de doenças purulentas

feridas infectas

e veias saltadas

O nada suspenso no ar

somente o vazio

alimentando a depressão abjeta

da rotina pestilenta

de uma vida precária

triste

sem conseguir ficar de pé

sem motivos para lutar continuar

no terrível cárcere existencial

Dance Baile

com a santa piromaníaca no altar

dizendo o que devemos fazer

Tanta submissão

Tanta obediência

Hipocrisia e mentira

Tudo cada vez mais limpinho e higiênico

Tanta farsa otimista

Camuflagens ordinária

 

Tido mundo é bom

menos eu

pelo menos isso é bom

 

 

 O martírio dos que dizem não

 

Por que nos perseguem e humilham

oprimem e acorrentam

matam e deturpam

?

Será apenas por sermos diferentes

representarmos perigo a sua farsa

não acreditando em suas mentiras

?

Tantas falácias e ilusões

criam  cemitérios povoados pela tétrica certeza falida

neste triste calvário chamado vida

.

Mas mesmo assim seguimos em frente

pois não queremos as possibilidades que nos oferecem

como se fossem fórmulas mágicas decadentes


Por Fabio da Silva Barbosa


 

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário