Capítulos 29, 30 e 31 - O sorriso da cachorra
Eleição do c.a.
O resultado da eleição só saiu às dez horas da noite. Foi
uma alegria total, os colegas se abraçavam e gritavam: tiveram oitenta por
cento dos votos. O Prof. Antônio sorria com uma alegria totalmente espontânea;
ele era candidato a diretor da escola e contava com o apoio de André para
vencer seu adversário, um professor pesquisador, que até então contava com o
apoio dos estudantes. Com a eleição de André tudo mudara. André era o maior
adversário do outro candidato.
Foram então comemorar
num bar chamado “Caldinho do Vieira”, onde beberam e comemoraram. No outro dia,
tinha prova de agricultura III. Como já estava aprovado por antecipação, achou
que estava bem para fazer a prova. Mas, quando sentou para responder às
questões, toda a cachaça bebida voltou a sua cabeça. Os colegas perceberam e
passaram a passar-lhe “cola”, apesar dele estar já aprovado.
O Agrobar
Com a vitória no C.A.
chegara a hora da implantação das propostas, algumas delas necessitavam de
recursos, e por isso surgiu a ideia do AGROBAR! Que seria um bar organizado
pelo C.A. toda última sexta-feira do mês. As meninas da diretoria fariam alguns
petiscos e os meninos organizariam o resto. Conseguiram as mesas no R.U.,
enquanto as cervejas eram trazidas na caminhonete de um companheiro da
diretoria. O Bar fora um sucesso, abria às 9h da manhã. No princípio, houve
alguma resistência por parte da universidade, mas era ano de eleição para
reitor e André estava muito bem com a vitória. Consequentemente, soube tirar
proveito da situação, já que nenhum dos dois candidatos gostaria de ter
problemas com o C.A. de Agronomia.
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André acordara cedo. Era a última sexta-feira do mês e
dia de AGROBAR. Encontrara com os meninos no depósito de bebidas e subira para
a universidade com a caminhonete lotada de cerveja. Chegando, foi montar o Bar.
Era uma festa, e um pequeno som tocava forró. Às 10h ninguém mais assistia às
aulas, o Bar ficava em baixo de uns pés de eucaliptos, onde havia uns bancos de
concreto, a maioria das pessoas ficavam mesmo era em pé. Logo o bar passou a
ter não só alunos de agronomia, mas de todas as áreas, como jornalismo,
direito, enfermagem, arquitetura, engenharia, física.
Nessa sexta-feira
Patrícia tinha prova e não chegou cedo como sempre fazia. Na verdade quem
chegou cedo, nesse dia, foi Glória: estava linda, jeans e camiseta branca de
alcinhas, sem sutiã. Ela foi direto falar com André, que estava servindo no
bar, o cumprimentou e foi conversar com Bela e Helena, duas colegas da diretoria.
André rapidamente pulou o balcão improvisado e juntou-se a elas e, faceiro,
chamou a menina da jardineira para dançar forró. Era meio louco, já que todos
ali conheciam Patrícia. Ela, no entanto, condicionou a dança a uma visita dele
ao laboratório onde ela desenvolvia pesquisas – ela que tentava envolvê-lo
desde sempre o C.A. com pesquisas. André aceitou. Dançaram, mas não foram
juntos para o laboratório, pois para ninguém desconfiar de nada. Quando chegou
ao laboratório, ela estava de costas para a porta e debruçada sobre o birô.
Olhou para trás, jogando para o lado os seus longos cabelos negros para poder
vê-lo melhor.
— Você está linda! – disse André.
— Obrigada. Entre que estou já terminando de arrumar esta
mesa e depois vamos conversar.
— Tenho notado ultimamente que estamos mais próximos.
— Também acho, mas não podemos permitir que vá além da
amizade.
— É só amizade o que você sente por mim?
— Acho você muito atraente, inteligente, sua coragem me
atrai, além disso, adoro conversar com você. Qualquer mulher que te conhece se
sente atraída por seu carisma e seu cavalheirismo.
— Então o que sente por mim é o mesmo que qualquer mulher
sente? Nada especial? (pausa).
— Você sabe que não!
— E por que não aceita sair comigo?
— Apesar de Patrícia não gostar de mim, gosto dela e você
sabe que vou me casar depois da faculdade.
— Mas você acha justo
que podemos nosso sentimento?
— Temos!
— Somos jovens, e esses desejos são naturais. Ficaremos
eternamente arrependidos se não realizarmos, pois não temos idade para sermos
de uma só pessoa, a não ser que não desejemos outra, o que não é o nosso caso.
— André, você é muito envolvente e tenho medo; faltam
dois anos para o meu casamento.
— Não tenha medo! Jamais a magoarei...
Nesse momento ele lembrou do conselho do seu irmão poeta:
“As mulheres adoram ser tocadas; o calor da mão sobre seus ombros e costas as
excita”. – E colocou a mão no ombro de Glória.
— Mas eu prefiro não arriscar. Não quero deixar meu
noivo, embora você me atraia muito.
— O seu cheiro me atordoa... – disse, com a mão esquerda
sobre sua nuca; com o outro braço envolveu a cintura dela e beijou-lhe a boca.
— Enquanto estava me pedindo, diria não... Mas sabia que
se me beijasse não resistiria.
Eles se beijaram e se acariciaram. Ele lhe beijava o
rosto, o pescoço e a boca, enquanto ela retribuía acariciando as costas dele e
também seus cabelos. Ela tirou os óculos dele e ele a deitou sobre a bancada do
laboratório, deixando cair alguns beckes e provetas, que estavam sobre a
bancada. Tirou calmamente a blusa dela e pôde ver pela primeira vez seus lindos
seios rosados. Eram rígidos como nenhum outros. André os beijava e
acariciava-os delicadamente. Em seguida, desceu beijando seu ventre até a
altura da calça que estava semiaberta. Beijava por sobre sua calcinha, quando
ela, com voz trêmula, o implorou para que parasse, pois seu orientador poderia
chegar a qualquer momento, e ela perderia sua bolsa de pesquisa. Na verdade,
eles poderiam até serem punidos, mas ela prometera que na semana seguinte o
encontraria onde ele quisesse.
Quando voltou para o AGROBAR, lá do prédio de Física, que
ficava entre o de Química e o de Agronomia, pôde ver Patrícia, sentada do lado
de fora do bloco de agronomia. Fez que não a viu e entrou no bloco em direção
ao banheiro. E pensou no que Patrícia fazia ali, já que naquele dia ela tinha
prova no hospital universitário, que não era no campus. Lavou o rosto, para
tirar o perfume de Glória e se dirigiu para o bar. No corredor encontrou
Patrícia, logo atrás dela vinha chegando Glória. Patrícia perguntou onde ele
estava. Ele falou que estava na área de pesquisa de campo. Por sorte era o
único lugar em que ela falara não ter procurado, pois dissera que procurara em
todos os blocos, inclusive no de Química, que era onde ele estava. Só que o laboratório
ficava nos fundos de uma sala de aula e ela não sabia, por isso chegou até a
abrir a porta da sala, mais não foi ao fundo da sala onde ficava o laboratório.
Glória chegou, conversou um pouco com eles e foi embora. Então Patrícia disse:
— Esta menina está a fim de você, André. E ainda tem
coragem de falar com a gente.
— É impressão sua, Princesa, é porque sou coordenador do
C.A. Ela é até noiva.
— Noiva! E fica aí mostrando os peitos com essa blusa
transparente. Esse noivo deve ser um corno!
— Bom, não sei, nunca ouvi falar nada dela.
— Tá defendendo por quê?
— Não tô defendendo, só estou dizendo que não sei de
nada.
— Mas ela vivia na sua casa de roupinha curta e
camisetinha.
— Ah! Princesa, nós já falamos sobre isso, não vamos
estragar o nosso dia por ela, hoje é sexta-feira e você está linda, meu amor.
— Desculpa! Estava morrendo de saudade, e hoje vou dormir
na sua casa.
— Maravilha! Vamos comemorar.
Estava quase toda a diretoria, e “lobisomem”, pseudônimo
de Ramos, bateu no seu ombro e disse.
— Cuidado, vocês estão se arriscando demais.
André o olhou espantado, sem saber como ele notara seu
encontro com Glória.
Lua, Vinho &...
Antes de pegá-la, foi ao apartamento e espalhou umas
velas ao redor de um tapete branco que tinha na sala, e também ao lado da cama
de madeira escura, e colocou sobre ela um buquê de rosas vermelhas. A noite
estava linda, com uma bela lua cheia. O clima estava agradável, e soprava uma
leve brisa. Era dia 30 e, portanto, aniversário de namoro deles. Tudo estava
perfeito.
Quando chegou a casa de Patrícia, esperou uns 30 minutos,
como sempre, mas valeu à pena. Ela estava linda! Vestia uma saia indiana em
tons vinho e uma blusa bege, deixando seus ombros à mostra. Desceu as escadas
da varanda, enquanto ele a aguardava no portão. Com a mão esquerda pegou a mão
dela e a beijou, e com a direta lhe ofertou uma rosa vermelha. Ela apenas
sorria. A lua a iluminava ou ela iluminava a lua, ele não sabia ao certo. Abriu
a porta do carro para ela e se foram para o apartamento.
Chegando lá, Patrícia se surpreendeu com as velas e com
as rosas, olhou para ele, o abraçou e o beijou apaixonadamente. Enquanto ela
arrumava a mesa para o jantar, ele abriu o vinho e a serviu. Sentaram-se e
conversaram sobre como estavam felizes; eles falaram também sobre o futuro,
assunto raro entre os dois. Naquele dia estavam tão felizes que não podiam
deixar de ambicionar que aquela felicidade durasse para sempre. Comeram e
beberam. À medida que o vinho fazia efeito, eles ficavam cada vez mais excitados.
Cada toque, cada carícia pareciam brasas que deslizavam por seus corpos
seminus. André a levou nos braços da sala ao quarto, e o perfume do incenso e
as velas davam um clima místico àquele ambiente. Beijaram-se e tocaram-se como
se fosse a primeira e última vez em suas vidas. E Patrícia fazia movimentos com
o corpo sob a lua que entrava pela janela. Era como uma poesia viva, cheia de
amor e sensualidade.
Deitados, ficaram olhando para o teto decorado com
pequenas estrelas luminosas. Seus corpos prateados sobre aqueles lençóis
brancos até parecia que estavam nas nuvens, flutuando naquele lindo céu, de
noite branca. Fora sem dúvida uma das noites mais felizes de suas vidas.
*Daniel
Barros, 45, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos
romances O sorriso da cachorra,
Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED,
2013.
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