segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Capítulos 29, 30 e 31 - O sorriso da cachorra
Eleição do c.a.
Seu adversário, um gordo fazendeiro ligado a U.D.R. (União Democrática Ruralista), movimento de ultra-direita, péssimo estudante e muito burro, no dia das eleições levou seu motorista e também o capanga, que ficou estacionado em frente ao bloco de agronomia, com uma espingarda calibre12 à mostra. André quando percebeu, ficou “puto”, e disse que iria pegá-lo no braço. Os colegas o seguraram, enquanto Ramos ligava para o irmão de André, que era Policial federal, em outro estado. Rapidamente ligou para a Superintendência Regional de Alagoas, que mandou uma viatura da PF e prendeu em flagrante o capanga. Com essa movimentação, a eleição foi favorável. O grupo de André ganhou a eleição com folga.
O resultado da eleição só saiu às dez horas da noite. Foi uma alegria total, os colegas se abraçavam e gritavam: tiveram oitenta por cento dos votos. O Prof. Antônio sorria com uma alegria totalmente espontânea; ele era candidato a diretor da escola e contava com o apoio de André para vencer seu adversário, um professor pesquisador, que até então contava com o apoio dos estudantes. Com a eleição de André tudo mudara. André era o maior adversário do outro candidato.
Foram então comemorar num bar chamado “Caldinho do Vieira”, onde beberam e comemoraram. No outro dia, tinha prova de agricultura III. Como já estava aprovado por antecipação, achou que estava bem para fazer a prova. Mas, quando sentou para responder às questões, toda a cachaça bebida voltou a sua cabeça. Os colegas perceberam e passaram a passar-lhe “cola”, apesar dele estar já aprovado.


O Agrobar



Com a vitória no C.A. chegara a hora da implantação das propostas, algumas delas necessitavam de recursos, e por isso surgiu a ideia do AGROBAR! Que seria um bar organizado pelo C.A. toda última sexta-feira do mês. As meninas da diretoria fariam alguns petiscos e os meninos organizariam o resto. Conseguiram as mesas no R.U., enquanto as cervejas eram trazidas na caminhonete de um companheiro da diretoria. O Bar fora um sucesso, abria às 9h da manhã. No princípio, houve alguma resistência por parte da universidade, mas era ano de eleição para reitor e André estava muito bem com a vitória. Consequentemente, soube tirar proveito da situação, já que nenhum dos dois candidatos gostaria de ter problemas com o C.A. de Agronomia.
André acordara cedo. Era a última sexta-feira do mês e dia de AGROBAR. Encontrara com os meninos no depósito de bebidas e subira para a universidade com a caminhonete lotada de cerveja. Chegando, foi montar o Bar. Era uma festa, e um pequeno som tocava forró. Às 10h ninguém mais assistia às aulas, o Bar ficava em baixo de uns pés de eucaliptos, onde havia uns bancos de concreto, a maioria das pessoas ficavam mesmo era em pé. Logo o bar passou a ter não só alunos de agronomia, mas de todas as áreas, como jornalismo, direito, enfermagem, arquitetura, engenharia, física.
Nessa sexta-feira Patrícia tinha prova e não chegou cedo como sempre fazia. Na verdade quem chegou cedo, nesse dia, foi Glória: estava linda, jeans e camiseta branca de alcinhas, sem sutiã. Ela foi direto falar com André, que estava servindo no bar, o cumprimentou e foi conversar com Bela e Helena, duas colegas da diretoria. André rapidamente pulou o balcão improvisado e juntou-se a elas e, faceiro, chamou a menina da jardineira para dançar forró. Era meio louco, já que todos ali conheciam Patrícia. Ela, no entanto, condicionou a dança a uma visita dele ao laboratório onde ela desenvolvia pesquisas – ela que tentava envolvê-lo desde sempre o C.A. com pesquisas. André aceitou. Dançaram, mas não foram juntos para o laboratório, pois para ninguém desconfiar de nada. Quando chegou ao laboratório, ela estava de costas para a porta e debruçada sobre o birô. Olhou para trás, jogando para o lado os seus longos cabelos negros para poder vê-lo melhor.
— Você está linda! – disse André.
— Obrigada. Entre que estou já terminando de arrumar esta mesa e depois vamos conversar.
— Tenho notado ultimamente que estamos mais próximos.
— Também acho, mas não podemos permitir que vá além da amizade.
— É só amizade o que você sente por mim?
— Acho você muito atraente, inteligente, sua coragem me atrai, além disso, adoro conversar com você. Qualquer mulher que te conhece se sente atraída por seu carisma e seu cavalheirismo.
— Então o que sente por mim é o mesmo que qualquer mulher sente? Nada especial? (pausa).
— Você sabe que não!
— E por que não aceita sair comigo?
— Apesar de Patrícia não gostar de mim, gosto dela e você sabe que vou me casar depois da faculdade.
— Mas você acha justo que podemos nosso sentimento?
— Temos!
— Somos jovens, e esses desejos são naturais. Ficaremos eternamente arrependidos se não realizarmos, pois não temos idade para sermos de uma só pessoa, a não ser que não desejemos outra, o que não é o nosso caso.
— André, você é muito envolvente e tenho medo; faltam dois anos para o meu casamento.
— Não tenha medo! Jamais a magoarei...
Nesse momento ele lembrou do conselho do seu irmão poeta: “As mulheres adoram ser tocadas; o calor da mão sobre seus ombros e costas as excita”. – E colocou a mão no ombro de Glória.
— Mas eu prefiro não arriscar. Não quero deixar meu noivo, embora você me atraia muito.
— O seu cheiro me atordoa... – disse, com a mão esquerda sobre sua nuca; com o outro braço envolveu a cintura dela e beijou-lhe a boca.
— Enquanto estava me pedindo, diria não... Mas sabia que se me beijasse não resistiria.
Eles se beijaram e se acariciaram. Ele lhe beijava o rosto, o pescoço e a boca, enquanto ela retribuía acariciando as costas dele e também seus cabelos. Ela tirou os óculos dele e ele a deitou sobre a bancada do laboratório, deixando cair alguns beckes e provetas, que estavam sobre a bancada. Tirou calmamente a blusa dela e pôde ver pela primeira vez seus lindos seios rosados. Eram rígidos como nenhum outros. André os beijava e acariciava-os delicadamente. Em seguida, desceu beijando seu ventre até a altura da calça que estava semiaberta. Beijava por sobre sua calcinha, quando ela, com voz trêmula, o implorou para que parasse, pois seu orientador poderia chegar a qualquer momento, e ela perderia sua bolsa de pesquisa. Na verdade, eles poderiam até serem punidos, mas ela prometera que na semana seguinte o encontraria onde ele quisesse.
Quando voltou para o AGROBAR, lá do prédio de Física, que ficava entre o de Química e o de Agronomia, pôde ver Patrícia, sentada do lado de fora do bloco de agronomia. Fez que não a viu e entrou no bloco em direção ao banheiro. E pensou no que Patrícia fazia ali, já que naquele dia ela tinha prova no hospital universitário, que não era no campus. Lavou o rosto, para tirar o perfume de Glória e se dirigiu para o bar. No corredor encontrou Patrícia, logo atrás dela vinha chegando Glória. Patrícia perguntou onde ele estava. Ele falou que estava na área de pesquisa de campo. Por sorte era o único lugar em que ela falara não ter procurado, pois dissera que procurara em todos os blocos, inclusive no de Química, que era onde ele estava. Só que o laboratório ficava nos fundos de uma sala de aula e ela não sabia, por isso chegou até a abrir a porta da sala, mais não foi ao fundo da sala onde ficava o laboratório. Glória chegou, conversou um pouco com eles e foi embora. Então Patrícia disse:
— Esta menina está a fim de você, André. E ainda tem coragem de falar com a gente.
— É impressão sua, Princesa, é porque sou coordenador do C.A. Ela é até noiva.
— Noiva! E fica aí mostrando os peitos com essa blusa transparente. Esse noivo deve ser um corno!
— Bom, não sei, nunca ouvi falar nada dela.
— Tá defendendo por quê?
— Não tô defendendo, só estou dizendo que não sei de nada.
— Mas ela vivia na sua casa de roupinha curta e camisetinha.
— Ah! Princesa, nós já falamos sobre isso, não vamos estragar o nosso dia por ela, hoje é sexta-feira e você está linda, meu amor.
— Desculpa! Estava morrendo de saudade, e hoje vou dormir na sua casa.
— Maravilha! Vamos comemorar.
Estava quase toda a diretoria, e “lobisomem”, pseudônimo de Ramos, bateu no seu ombro e disse.
— Cuidado, vocês estão se arriscando demais.
André o olhou espantado, sem saber como ele notara seu encontro com Glória.

Lua, Vinho &...
mãe de André tinha um apartamento mobiliado, que alugava, mas estava sem inquilino. Então, já que Patrícia passaria com ele aquela noite, resolvera que seria melhor dormirem no apartamento. Combinaram que Patrícia faria uma torta de verduras e André levaria o vinho.
Antes de pegá-la, foi ao apartamento e espalhou umas velas ao redor de um tapete branco que tinha na sala, e também ao lado da cama de madeira escura, e colocou sobre ela um buquê de rosas vermelhas. A noite estava linda, com uma bela lua cheia. O clima estava agradável, e soprava uma leve brisa. Era dia 30 e, portanto, aniversário de namoro deles. Tudo estava perfeito.
Quando chegou a casa de Patrícia, esperou uns 30 minutos, como sempre, mas valeu à pena. Ela estava linda! Vestia uma saia indiana em tons vinho e uma blusa bege, deixando seus ombros à mostra. Desceu as escadas da varanda, enquanto ele a aguardava no portão. Com a mão esquerda pegou a mão dela e a beijou, e com a direta lhe ofertou uma rosa vermelha. Ela apenas sorria. A lua a iluminava ou ela iluminava a lua, ele não sabia ao certo. Abriu a porta do carro para ela e se foram para o apartamento.
Chegando lá, Patrícia se surpreendeu com as velas e com as rosas, olhou para ele, o abraçou e o beijou apaixonadamente. Enquanto ela arrumava a mesa para o jantar, ele abriu o vinho e a serviu. Sentaram-se e conversaram sobre como estavam felizes; eles falaram também sobre o futuro, assunto raro entre os dois. Naquele dia estavam tão felizes que não podiam deixar de ambicionar que aquela felicidade durasse para sempre. Comeram e beberam. À medida que o vinho fazia efeito, eles ficavam cada vez mais excitados. Cada toque, cada carícia pareciam brasas que deslizavam por seus corpos seminus. André a levou nos braços da sala ao quarto, e o perfume do incenso e as velas davam um clima místico àquele ambiente. Beijaram-se e tocaram-se como se fosse a primeira e última vez em suas vidas. E Patrícia fazia movimentos com o corpo sob a lua que entrava pela janela. Era como uma poesia viva, cheia de amor e sensualidade.
Deitados, ficaram olhando para o teto decorado com pequenas estrelas luminosas. Seus corpos prateados sobre aqueles lençóis brancos até parecia que estavam nas nuvens, flutuando naquele lindo céu, de noite branca. Fora sem dúvida uma das noites mais felizes de suas vidas.




*Daniel Barros, 45, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, 2013, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED, 2013.

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